As ruas estão a ficar com um ambiente mais poluído. A porcaria sai dos tubos de escape de carros, motos e autocarros. Os detritos característicos de uma sociedade de consumo atapetam os passeios e enfeitam as bermas das ruas alcatroadas. Papéis das mais variadas proveniências, restos de coisas mais ou menos identificáveis; lixo, porcaria, ruído e mau cheiro. Ok, nada de extraordinário - tudo normal!
Mas as ruas estão a ficar mais poluídas. Há um novo tipo de lixo a incomodar os transeuntes e a emporcalhar os passeios. São os missionários evangélicos, ansiosos por espalhar a palavra do Senhor.
Homens e mulheres de aspecto mais ou menos limpo, mais ou menos arranjado, mas sempre com aquele olhar de falcão disfarçado de pinto, que vão proliferando pelas ruas e avenidas deste subúrbio a que chamo casa.
Olhando bem, vendo a forma como se aprumam ao lado dos expositores que colocam à vista dos transeuntes, brochura na mão, a forma como conversam uns com os outros, como tentam passar uma imagem de bonomia e felicidade, olhando bem, noto que tudo aquilo não é mais que fachada.
Tal como todos os outros (os pecadores) estes seres iluminados pela centelha divina pretendem apenas alguém que os ouça, alguém que lhes dê atenção; tal como todos os outros pretendem ser amados e, se possível, suprema felicidade, ser admirados! Isso sim, caraças... aleluia para isso!!!
A admiração é um bálsamo infalível para as feridas da alma.
O meu problema com estas personagens é que elas não acreditam na liberdade, não são boas pessoas, estão sempre dispostas a apontar o dedo e acender as chamas do inferno para grelhar quem não acredita nas patranhas que elas fingem ser reais.
Esta malta actua como actuariam os vampiros: uma vez mordida, a vítima transforma-se num deles, sem apelo nem agravo, para toda a Eternidade. Que porcaria.