sexta-feira, novembro 29, 2019

Sexta-feira negra

Não querendo armar-me em virgem ofendida sempre vos digo que o conceito da Black Friday é uma coisa, a meus olhos, repulsiva. Traz consigo uma perspectiva desumanizadora da nossa sociedade que me incomoda. Funciona como espelho e reflecte um bicho demasiado disforme.

A substituição do cidadão pelo consumidor (tema várias vezes abordado aqui, no 100 Cabeças) já não me cheira bem. Haver um dia em que o consumidor é transformado em animal selvagem é coisa que fede.

Nas caixas de mensagens do meu telemóvel e do e-mail vão caindo missivas enviadas por diversas lojas que anunciam acontecimentos extraordinários. Descontos estratosféricos, facilidades de crédito inimagináveis, ofertas irrecusáveis, tudo para o meu bem, tudo porque, como me dizem, sou importante para as empresas comerciantes.

É o Capital a sorrir-me mas, no seu sorriso, vejo um esgar alucinado.

quinta-feira, novembro 28, 2019

14 anos de idade

É hoje (hoje é dia 28 não é?) o aniversário deste blogue. Estamos em Novembro, certo? Sim, 28 de Novembro, catorze anos atrás, se bem faço a conta, postei o primeiro texto aqui, no 100 Cabeças. Este é o post 2076.

14 anos em idade de Blogue corresponderá a quantos anos em termos de vida humana? Há quem saiba estabelecer uma relação entre a idade dos gatos e a dos seus acompanhantes, a idade dos cães e a idade dos seus mestres, é só fazer a continha. Quanto aos Blogues...

14 anos é a idade média dos meus alunos actualmente. Ou seja, aqueles a quem tento ensinar qualquer coisinha nos dias que vão correndo estariam a nascer quando este Blogue dava os primeiros passinhos. O que poderá isto significar? Só pode significar... absolutamente nada!

Vá lá, não sendo tão drástico na apreciação, significa que passaram exactamente 14 anos e que 14 anos são, exactamente, isso mesmo.

Estou a escrever este texto num computador numa sala na minha escola. Há uma fila de 4 mesas viradas para a parede, em cada uma seu computador. Tenho uma colega à minha esquerda que fala para uma outra, à minha direita como se eu não estivesse aqui, entre elas. A minha defesa é constituída por uns auscultadores ligados ao telemóvel e música em volume exagerado (neste momento estou a ouvir Charlie don't surf dos Clash).

Estou também equipado com generosas doses de paciência e de boa educação. Tão generosas são as doses que suporto esta grosseria sem cuspir viperinamente à colega do lado um "fecha a matraca", que era o que me apetecia fazer. Mas não, quando era puto ainda fui tomar chá a casa da prima umas duas ou três vezes acompanhando a minha avó e sempre aprendi uma ou outra coisinha que agora me ajudam a fazer de conta que esta merda não me incomoda. O que faria eu há 14 anos atrás se estivesse numa situação como esta?

Era bem possível que fizesse exactamente isto, escrever um post no 100 Cabeças.

terça-feira, novembro 26, 2019

Dilúvio de bolso

Chove que Deus a dá! Lá fora cai um pequeno dilúvio, muito apropriado tendo em conta a dimensão do país. Um dilúvio a sério afogava-nos a todos. Quando cai uma chuvinha assim há logo uma trupe de gajos que vêm afirmar: Estão a ver!? Qual desertificação qual carapuça!!!

Tenho a sensação de que estes caramelos estão todos borrados de medo e que a possibilidade de estarmos de facto a passar por uma fase de alteração climática severa lhes tira o sono. Isso explica a forma entusiástica como celebram cada gota de chuva, como se fosse a prova do erro dos arautos do desastre climático.

Lá fora a chuva continua a cair. No entanto há zonas do país que continuam em situação de seca extrema.

domingo, novembro 24, 2019

Querer

O Ser Humano que estamos a construir está cada vez mais desumanizado. Instalada a angústia neoliberal: a necessidade voraz de consumir, de ser através do ter, a transformação do Ser humano em "capital" humano... é demasiado! E as esquerdas respondem aos pontapés no próprio cú.

Precisamos de saber aquilo que queremos MESMO, não pode ser tudo! Temos de saber do que estamos dispostos a prescindir de modo a alcançarmos a distribuição generalizada daquilo que consideramos essencial. Se pretendermos tudo ao mesmo tempo não teremos nada, a não ser decepção e desumanização total.

O neoliberalismo está a dar as últimas, prestes a assumir uma nova forma, definitivamente monstruosa e destruidora. Precisamos de nos preparar para o embate.

sexta-feira, novembro 22, 2019

Raposas na capoeira

"O sono da razão engendra monstros" a frase mágica que Goya registou para a posteridade e que, pessoalmente, me serve de retrato para a inteligência humana e para as suas construções. Este intróito em zigue-zague pretende trazer à luz algumas preocupações que me assaltaram ontem, ao ver algumas reportagens da manifestação das forças de segurança à porta da Assembleia da República.

O que vi? Polícias em manifestação, uns de punho erguido outros de braço estendido. Velhinhas e velhinhos com cartazes de apoio e polícias embevecidos com tais manifestações de carinho. Mais polícias e agentes da GNR em manifestação com os seus dirigentes debitando as habituais palavras de circunstância. Nota: todos os que vi pareciam bem barbeados, bem lavados e penteadinhos (muitos têm a cabeça rapada à skinhead), vestidos com aprumo suficiente para não assustarem quem emprenhe pelos olhos. Depois começaram a aparecer uns gajos com t-shirts do movimento zero.

Aí foi o momento da rataria sair da toca. Apareceu o Telmo Correia, apareceu o André Ventura. Um só falou para as câmaras de TV o outro teve direito a púlpito com o movimento zero a guardar-lhe as costas e a aplaudir as habituais atoardas da personagem. Foi aí que uma ideia mórbida se me atravessou, ao comprido, na mona: e se estivermos a permitir que a PSP se torne um coio de nazis e fascistas? Não é ideia nova, antes preocupação antiga mas uma coisa é sonhar, outra é ver com os próprios olhos, uma coisa é suspeitar, outra é ter a certeza.

Já participei em diversas manifestações e lutas sindicais. Já fui olhado com desconfiança (acho que os nossos embates com o estado nunca chegaram a provocar ódio entre os que discordavam das nossas formas de reivindicar direitos) e já me apercebi que aquilo que pretendemos dizer nem sempre é aquilo que fazemos ouvir. Oxalá esteja enganado mas estas movimentações dos zeros são inquietantes. É que são zeros à direita e anda por aí muito filho da puta.

quinta-feira, novembro 21, 2019

Mais e menos

Pretender nivelar a sociedade é tarefa que nem mesmo Deus, Nosso Senhor, encara com entusiasmo. A complexidade da coisa deixa os cabelos em pé a um careca. Mas há quem acredite ser possível, há quem tente organizar-se, há quem insista e não desista da ideia de que é possível construir uma sociedade mais justa.

Aqui reside uma das subtilezas da ideia. Não sei quando aconteceu mas já é raro ouvir falar em "sociedade justa", o conceito foi substituído por "uma sociedade mais justa" e é na palavra "mais" que encontramos a chave do portão.

O tal "mais" implica que o objectivo não seja aniquilar a injustiça mas sim debelá-la, poderíamos mesmo pensar que o grande sonho, o sonho capaz de nos aproximar do Paraíso na Terra é o de construir uma sociedade menos injusta.

E chegamos à dura e cruel realidade. A chave não é, na verdade, a palavra "mais" mas sim a palavra "menos".

Dir-me-ão que "menos injustiça" corresponde a "mais justiça". Pois bem, não estou certo disso. Creio que poderemos reduzir enormemente a injustiça e, ainda assim, ficarmos bem longe da justiça mínima exigível a uma sociedade humana digna e que ainda é para lá que caminhamos, a passo de caracol.

segunda-feira, novembro 18, 2019

Um momento de felicidade

Hoje senti um entusiasmo particular durante as aulas. Expor aos alunos (muito jovens, 14-15 anos) processos e esquemas de representação do corpo humano, começando pela expressão facial, abriu uma via de comunicação que se revelou surpreendentemente profícua.

Noto que um pouco de erudição ainda capta a atenção da plateia e, sobretudo, conhecimento de causa produz um efeito de quase encantamento capaz de proporcionar comunhão de pensamento reflexivo. Há momentos assim, momentos compensadores.

Sentir que estou de facto a comunicar algo que alarga os horizontes da plateia numa sala de aulas deixa-me perceber, por brevíssimos momentos, um certo sentido para a vida que trago dentro de mim. Foi bom. Para mim foi mesmo bonito!

quinta-feira, novembro 14, 2019

Fábula da Sabedoria

Sentados em redor da mesa rectangular, uns de frente para os outros, continuamos a debater o aspecto que tem o espaço vazio. A nossa percepção da coisa é recolhida através do olhar. Olhamos o espaço vazio com tanta força, tanta concentração (alguns chegam mesmo a semicerrar os olhos) que dificilmente nos conseguimos aperceber daquilo que estamos a ver realmente.

Estamos a ver o plano de fundo; vemo-lo desfocado, impreciso, no entanto procuramos explicação para aquilo que somos incapazes de compreender. Vale o esforço, falham os resultados, sobra-nos o mundo que temos.

Pobres daqueles que ignoram o vazio, são tomados por tolos.

As pessoas inteligentes não têm dúvidas e nunca (ou raramente) se enganam. Toda a hesitação é por elas resolvida recorrendo à sua inexcedível inteligência. A cada problema resolvido corresponde tempo ganho, dinheiro em caixa, riqueza adquirida e sabedoria... sabedoria... sabedoria!?

Entre o tolo e o inteligente ergue-se uma torre enorme e sem nome, paredes lisas como marfim, apenas uma abertura, uma frincha estreita que é a porta. Dentro da torre não há nada, apenas o tal vazio e, além do vazio, existe a ausência de luz, a mais completa escuridão. Na verdade esse vazio é percepcionado como sendo a essência do Universo pelas pessoas inteligentes que, por serem inteligentes, são consideradas sábias. A ausência de luz permite uma maior concentração aos sábios e provoca algum desconforto naqueles que são tolos.

As pessoas inteligentes, os sábios, afirmam ser capazes de compreender o espaço vazio (na verdade não vêem nada, muito menos no interior da torre) ao ponto de proporem modelos que traduzam essa ausência  em algo palpável, normalmente recorrendo a complexas conjugações de algarismos, números e símbolos cabalísticos. É coisa só para iniciados.

Na verdade esses sábios, pessoas inteligentes que conhecem a magia dos números, estão a construir modelos do interior de si próprios e não daquilo que julgam estar a ver. Quando muito conseguirão proporcionar um vislumbre da forma como percepcionam o plano de fundo, até mesmo aos tolos que manifestem interesse suficiente em tais assuntos. Poderemos sempre questionar o espelho como fez a Rainha Má.

Esta fábula não tem fim porque sempre que surge um sábio há, pelo menos, um tolo que o persegue ou admira ou tenta compreender. Sempre que um novo modelo é oferecido ao mundo que pretende explicar há uma multidão de basbaques prontos para tudo: acreditar, duvidar e refutar. Assim o processo é reiniciado, o vazio volta a merecer toda a atenção. História sem fim enquanto houver Humanidade.

Ao tolo cabe um estranho papel.

terça-feira, novembro 12, 2019

A vida como ela é

É um bocadinho assim-assim, incomoda-me! Ouvir uma coisa dessas e ficar impassível, sem rir ou sem barafustar... é complicado. Apetece-me logo dizer "pois, pois, conversa da treta, é o que é" ou algo do género que um gajo tem dificuldade em calar a revolta cá dentro, não vá o esforço provocar alguma hérnia. Mas, prontos, um gajo tem de comer e calar. É a sina do povo.

Um tipo come e cala, cala e come, come e cala, cala e come, não é vida que se deseje para ninguém quanto mais para si próprio. De tanto comer e calar um gajo aproxima-se do abismo da revolta e fica a pensar seriamente na possibilidade de saltar e cair lá bem no meio da luta. Mas hesita-se que uma pessoa tem medos, um gajo tem receios. Vai ficando a cirandar por ali, à beirinha do precipício. Mas saltar... já é outra conversa.

Um gajo tem os tomates para usar quando são necessários e aplicá-los naquilo para que servem. E quando se depara com uma injustiça daquelas ou uma incompetência como esta é difícil ficar impassível, sem rir ou sem barafustar... é complicado.


domingo, novembro 10, 2019

Amigos

Os amigos não são melhores nem piores. Como podemos ter um "pior amigo"?

Os amigos são tudo o que temos.

sábado, novembro 09, 2019

Eternidade

Tudo estava devidamente inerte. Era essa a ordem natural daquelas coisas que, imóveis, absorviam a luz, absorviam os sons, coisas que quase chegavam a respirar, como se estivessem vivas. Olhá-las era arriscar a sanidade. Ignorá-las era como perder a razão de viver. O que fazer, então?

Decidiu não fazer nada. Absolutamente nada. De olhos fechados avançou pela inóspita paisagem. Cada passo carregava um universo de possibilidades. Sabia que avançava (ou recuaria?) mas isso era apenas um detalhe sem a mínima importância.

À medida que caminhava, olhos fechados, coração apertado, apercebeu-se de uma estranha rigidez que lhe ia tolhendo os músculos, uma secura desconhecida na boca, quase sentia terror, mas porquê? Cada novo passo era mais pesado que o anterior, cada momento era mais longo, até que parou por completo, incapaz de avançar. Assim ficou.

A tentação foi mais forte que a razão, a voz que lhe impunha o fechamento das pálpebras hesitou por um momento e ele abriu-as revelando o extenso vale de areia azul. Também ele era, agora, uma daquelas coisas. Estático compreendeu que assim permaneceria até que o tempo lhe dissolvesse a vida.

sexta-feira, novembro 08, 2019

Melancolia

Na escuridão o mundo é outra coisa. Sem luz não há cores e, sem cores, as coisas são tão diferentes! Na escuridão, a menos que sejas cego, reina a dúvida; a escuridão é o império da incerteza. Em terra de cegos a escuridão é clareza de espírito?

Ah, as palavras, as coisas estúpidas que elas nos obrigam a dizer.

Uma estranha melancolia percorre-me o peito. É como uma brisa soprada dos lados do deserto, um suave sopro que passeia dentro de mim com uma indolência insultuosa. Tento ignorá-la mas nada, não sou capaz. Afinal ela passeia-se lá muito dentro de mim, no fundo do meu coração, na escuridão inacessível do meu ser. E, na escuridão, o mundo é outra coisa.

Sorrio na direcção do meu interlocutor. Ele continua a falar. Apercebo-me de que não se havia interrompido. As palavras brotando da sua boca como água de uma fonte. Compreendo que lhe basta o meu sorriso, um ou outro gesto de assentimento que lhe garanta haver da minha parte alguma conexão com o seu discurso. Fraca garantia o satisfaz.

E é assim: palavras e mais palavras, sons que ecoam na realidade dos objectos circundantes e me devolvem a verdade distorcida; uma verdade que me enforma e auxilia na construção do mundo tal como julgo vê-lo. Até do meu olhar eu já duvido pois sei bem que quando a luz se vai e se instala a escuridão o mundo é outra coisa.

quinta-feira, novembro 07, 2019

Um búzio

Os dedos dos pés na areia húmida traziam-lhe recordações de infância a cada passo que dava. Um búzio de dimensão generosa parecia aguardá-lo mais adiante; estático, como se se banhasse, ora visível ora escondido na espuma que o mar ia babando sobre a praia. O búzio parecia chamá-lo.

Respondendo ao apelo avançou, baixou-se, a perna esquerda esticada, em equilíbrio sobre a flexão da perna direita, apanhou o búzio. Tomou-lhe o peso, sentiu-lhe a textura e encostou-o ao ouvido para ouvir a voz do mar (coisa estúpida de se fazer ali, com os pés dentro de água e o mar todo a falar-lhe tão perto).

Mas o que ouviu foi estranho, foi como um grito, não foi aquele murmúrio surdo que esperava, a voz habitual dos búzios, nada disso, foi uma coisa aguda, um som que lhe alfinetou a alma, que o inquietou, que lhe causou um arrepio tremendo. Olhou espantado a abertura do búzio que lhe havia largado dentro do ouvido aquele som horripilante.

Atirou o búzio para longe, restituindo ao mar aquele segredo estridente. Ele que ficasse com aquilo, que raio! Voltando as costas às ondas continuou a caminhar. Os dedos dos pés na areia húmida traziam-lhe recordações de infância a cada passo que dava.

quarta-feira, novembro 06, 2019

Discurso directo

Nunca te aconteceu, amável leitor, sentires que aquilo que tens para dizer é urgente e verdadeiro mas que, quando o disseres, nem todos os que te ouvirem vão ficar agradados? É claro que sim, que já te aconteceu, faz parte da vida de todos nós. É a opção entre falar ou ficar calado.

Agora imagina um dado adicional; aqueles que te vão ouvir de nariz torcido têm poder sobre ti. Aqueles que vão sentir as tuas palavras como alfinetes espetados debaixo das unhas podem decidir sobre assuntos que te interessam e podem impedir-te de vires a ser um pouco mais feliz (ou menos infeliz, é como naquela cena do copo meio cheio ou meio vazio).

Vão dizer-te que não se morde a mão que te dá de comer. Pessoalmente respondo: depende.

domingo, novembro 03, 2019

Contra o chumbo, marchar, marchar!


Assistimos à enésima arremetida ministerial contra as retenções no ensino básico. A redução espectacular dos chumbos que se verificou desde que Brandão Rodrigues é ministro não basta, queremos mais, queremos melhor! Enquanto houver uma retenção que seja, descanso e auto-satisfação não serão opções.

Novos estudos fornecem velhas conclusões: a retenção é selectiva, é precoce e cumulativa, levando na enxurrada do insucesso os filhos de famílias mais pobres, menos estruturadas e com menor capacidade de acesso a bens culturais. Haja esperança, até ao final desta legislatura o salário mínimo aumentará para 750 euros.

Velhas conclusões sugerem velhas soluções: acompanhamento individualizado, sistematização de programas e currículos, envolvimento activo dos diferentes actores educativos mas, sobretudo, apostar no empenho de professores e directores escolares reforçando a sua autonomia. Desta vez é que é!

Nas salas de aula continuarão a reunir-se turmas demasiado numerosas, os programas e currículos serão, como sempre, extensíssimos e desajustados, a carga burocrática do trabalho dos professores continuará kafkiana e com tendência a contribuir para o enlouquecimento de uma classe profissional envelhecida e, dizem, desmotivada.

Não obstante, no final da legislatura os resultados serão animadores, verificar-se-á que as taxas de retenção diminuíram, que o abandono escolar recuou e o ministro poderá sorrir, confiante de ter realizado um bom trabalho.

No universo dos números e das percentagens tudo está bem quando acaba bem. Verificar se a luta contra a ignorância e a estupidez teve sucesso será algo mais difícil de avaliar e não interessa a (quase) ninguém.


Carta enviada ao Director do jornal Público a 3 de Novembro de 2019

Escrito na rua

 Grito, Novembro de 2019



Quando sinto a esperança a fugir de dentro de mim faço um desenho.

Alguns dos meus desenhos são como abraços com os quais tento retardar a fuga da esperança. Outros são rasteiras, são murmúrios, são gritos.

Os meus desenhos são feitos de esperança que, como sabemos, é a última coisa a morrer. Mas a esperança, como todas as coisas, no fim morre também.