terça-feira, julho 30, 2019

Passeio na praia

Hoje de manhã fui até à praia. Bem cedo, pouca gente, muito vento. Resolvi passear a favor da ventania. Pessoas para trás, pessoas para a frente, aqui e ali uma gaivota, mais adiante um verdadeiro ajuntamento desta passarada.

Nesta conjuntura o pensamento espreguiça-se e vai andando mais à frente, por vezes atrasa-se, sinto-me uma espécie de autómato.

Foi então que reparei que tenho 56 anos e ainda não aprendi quase nada. Preciso de espaço para viver a minha vida mas não percebo muito bem como vivê-la. Haverá regras? Linhas gerais de orientação? Objectivos?

Sempre fui mais de fazer do que de reflectir, assim à maneira daqueles cowboys do velho Oeste, que disparavam primeiro e perguntavam depois. Vou deixando as coisas que faço, uma pista de bolinhas de miolo de pão; talvez um dia pretenda fazer o caminho de regresso.

Olho as gaivotas. Talvez elas comam as bolinhas e eu perca a noção do caminho de regresso. Não há volta a dar, resta-me avançar, ir fazendo, reflectindo... caminhei demasiado.

Quando fiz meia volta a minha atenção foi captada por outras coisas, outros pensamentos se formaram e esqueci tudo aquilo até que, sentado em frente ao teclado do computador escrevi isto.

É assim, a vida vai-se vivendo. Estou convencido de que é feita muito mais de esquecimentos que de recordações. Posso estar enganado. Na verdade nada disto interessa.

quinta-feira, julho 25, 2019

Arte plástica

A designação "artes plásticas" começa a tornar-se algo incómoda. Falar em "plasticidade" dos materiais não soa lá muito bem. São designações que enobrecem... o plástico!

Numa época em que o plástico se tornou numa espécie de super-vilão imbatível, o super-vilão que veio para conquistar o planeta transformando-o numa lixeira quase eterna, "artes plásticas" soa mal.

Há, no entanto, algumas obras que fazem justiça à designação. E não me refiro apenas a Rauschenberg. Será isto algum género de justiça poética?

quinta-feira, julho 18, 2019

Cultura


Quando Picasso viu, pela primeira vez, máscaras africanas ficou siderado. A partir daí a história da pintura deu uma cambalhota e a grande arte do Ocidente revolucionou-se milhentas vezes. A pintura europeia é superior à pintura africana? Ridículo! Existe apenas “pintura”, independentemente do tempo e do local onde foi (e é) criada, fruto das circunstâncias que cada pintor vivencia. 

A cultura é uma coisa informe que vamos moldando ao longo da nossa existência. É permeável, influenciável, mutante. As fronteiras culturais existem apenas como indicadores, marcações abstractas que ajudam a arrumar ideias em prateleiras e a enfiar princípios em gavetinhas. As fronteiras culturais são invenções potencialmente perversas que mais não fazem que gerar sofrimento. 

Quantos deuses foram únicos e senhores absolutos? Quantas guerras santas já arrasaram o planeta em nome da bondade e da verdadeira fé? 

O tema é inesgotável porque é universal. Não pretendo ter razão.

terça-feira, julho 16, 2019

Manas siamesas

Já o afirmei muitas vezes, aqui, no 100 Cabeças, ali, na escola, aos meus alunos, aos meus colegas professores, acoli, na mesa da tasca em conversa com amigos ou, apenas, conhecidos: o maior de todos os problemas é a ignorância, irmã siamesa da estupidez. Partilham o mesmo cérebro, estão unidas pela cabeça.

Haja quem faça a operação, primeiro é necessário separá-las. Depois... aceitam-se sugestões.

quinta-feira, julho 11, 2019

Toque de Midas

É estranho. Quanto maior é a capacidade de difusão de informação menos claro se torna o "diálogo". Na verdade não é tão estranho assim. Estava a dramatizar. De que estávamos nós à espera? A verdade é que imaginámos que a Internet seria algo muito diferente daquilo que, na verdade, é.

Aconteceu algo vagamente semelhante com a televisão. À partida acreditou-se que se tornaria um veículo de difusão cultural mas depressa caímos na realidade e percebemos que é, preferencialmente, um difusor de lixo variado.

A nossa sociedade de consumo tem esta espécie de toque de Midas, transformando em merda tudo aquilo que toca. 

terça-feira, julho 09, 2019

Racismo

O racismo, o racismo, o racismo!!! Afinal de contas em que ficamos: há racismo, não há racismo, acaba-se com o racismo, não se acaba com o racismo? Luta-se, fica-se, muda-se, estuda-se? A minha cabeça rodopia e não consigo fixar uma ideia que seja.

Penso que não sou racista mas, lendo e ouvindo tantas opiniões, disparadas de todos os lados, não tenho tanto a certeza. A minha convicção é abalada.

Sei que tenho preconceitos relativamente a certas pessoas mas quase posso assegurar que esses preconceitos são ditados muito mais pelas atitudes que pela cor da pele. Não gosto de pessoas que me pareçam estúpidas, que me pareçam más, que me pareçam demasiado arrogantes, enfim, pessoas com essas "qualidades" há-as de todas as cores.

Por vezes penso que havendo dinheiro na carteira, principalmente se for dinheiro em abundância, o racismo também se dilui um bom bocado. A condição económica marca tanto como a cor da pele?

Enfim, quero acreditar que o racismo é uma questão de educação, que é uma consequência da ignorância e da estupidez que atulha com facilidade cabeças pequeninas com ideias de merda. Mas posso estar enganado.