quarta-feira, maio 22, 2019

Porque vou votar nas europeias


Debateu-se recentemente a possibilidade alargar a fronteira do direito de voto para os cidadãos com 16 anos de idade. Uma larga maioria de deputados da Assembleia da República rejeitou a proposta e mantém-se tudo como dantes, quartel-general em Abrantes. 

Decerto que a maturidade dos eleitores foi argumento tido em conta nesta questão mas, pensando um bocadinho, percebemos que a maturidade não é automática. O chip da maturidade não é activado no preciso momento em que completamos a 18ª Primavera.

Muitos dos que têm direito a voto cultivam o hábito da abstenção, ainda mais quando se trata de eleições europeias. 

Os argumentos que alguns eleitores maduros apresentam para justificar a sua abstenção são dos mais variados: que a Europa é lá longe, que os políticos são todos iguais, que não fazem nada, que só estão interessados em auferir os ordenados escandalosos (pornográficos), que nós, eleitores, somos uma espécie de idiotas que servem apenas para caucionar a existência dessa corja de mamões inúteis que vão aquecer os cadeirões do parlamento em Bruxelas. 

Sinceramente, discordo da maior parte destes argumentos e, quando me deparo com discursos deste calibre, atrevo-me a imaginar que o direito a voto poderia ser oferecido todos os cidadãos que soubessem ler e escrever, independentemente da idade, e a partir dos 18 anos, para todos mesmo, incluindo os analfabetos.

Eu vou votar nas eleições europeias do próximo Domingo porque ainda acredito no Valor da Democracia.

Carta enviada ao director do Público

terça-feira, maio 21, 2019

Outra profecia merdosa


A Deus não tenho nenhum pedido a fazer, nem sequer que me deixe em paz. Na minha adolescência a sensação de ausência de futuro derivava da Guerra Fria, do temor da Bomba, mãe do Apocalipse. Era o tempo do chamado "movimento punk".

Olho para os dias de hoje e o "no future" está aí, mais presente do que nunca; visível, palpável, irrespirável.

Nada a fazer, o nosso modo de vida definha de forma irreversível. Penso que é tempo de começarmos a preparar as gerações futuras para aquilo que aí vem. Basta de alienação. A sobrevivência da espécie exige lucidez. Ou então será a Noite dos Tempos.

sexta-feira, maio 17, 2019

Escumalha


Não podemos ignorar o facto de que falhámos. A sociedade que construímos terá já entrado em fase de degradação geral sem que o pico máximo atingido, no que diz respeito à qualidade do Ser Humano, possa ser motivo de orgulho. Longe disso.

Misturámos Democracia com Capitalismo e o resultado não poderia ser outro: o Capitalismo é um cancro no corpo da Democracia. Não há cura conhecida e os médicos estão mais focados em curar unhas encravadas e flatulência, maleitas que afectam o Capitalismo, do que em tentar desenvolver terapias que permitam debelar o cancro que corrói a Democracia e a faz definhar a olhos vistos.

Não me venham com a treta de que as coisas são assim por que têm de ser, que não há alternativa... não me lixem.

As coisas são assim porque os capitalistas, em 99% dos casos, não prestam para nada que não seja explorar pessoas, locais e sociedades inteiras. As coisas são assim porque os capitalistas se estão a catar para o mal que provocam desde que com ele recolham benefícios que possam gozar enquanto por aqui andam a espalhar a sua fá na livre circulação de capitais. Alguns sentem remorsos, é o máximo que a consciência de classe lhes permite.

A Miséria é uma coisa necessária, a Pobreza e a Morte são inevitáveis; convencem-nos de que é esta a ordem natural do mundo. Sim, é a ordem do mundo, mas não é natural, a ordem natural aplica-se à biosfera, é uma ordem artificialmente criada e aperfeiçoada ao longo de milénios em benefício de uma casta especial de bichos-homens constituída pela escumalha da sociedade à qual, ironicamente, chamamos elite.

Os ricos e poderosos são o pior que há entre nós. Aceito que haja excepções mas terão de ser provadas com factos.

segunda-feira, maio 13, 2019

Profecia óbvia

Li algures que estamos a viver tempos de uma militância sem esperança. Uma militância desesperada, portanto. Concordo.

A questão central prende-se com a constatação de que o crescimento económico, característico do sistema capitalista globalizado, consome tudo com uma voracidade inaudita e já teremos ultrapassado o ponto de não-retorno (começo a tornar-me repetitivo?). É simplesmente impossível imaginar que os nossos netos, para já não falar dos nossos filhos, possam viver numa sociedade semelhante a esta.

Aquilo que designamos por níveis de bem-estar são, em grande parte, resultado do consumo excessivo dos recursos planetários e, pior do que esse consumo, provocam níveis descontrolados de poluição. Poluição atmosférica, dos solos, das águas, poluição sonora, das mentes e, digo eu, da própria ideia de Humanidade.

Imaginámos que a Humanidade evoluiria em direcção a uma espécie de estado de semi-divindade. Não pensámos que poderia existir um ponto na curva evolutiva que marcasse o início da sua descida, o início do declínio. Talvez estejamos a viver próximos, muito próximos mesmo, desse ponto.

Com o declínio da Humanidade virão outros tipos de degradação em diferentes graus: social, civilizacional, "you name it". Os nossos descendentes passarão a viver em condições muito diferentes daquelas em que nasceram, eventualmente diferentes para pior... ou talvez não.

Como já disse em muitos posts neste 100 Cabeças: "a esperança é a última coisa a morrer", mas também morre.