segunda-feira, agosto 30, 2021

Questão fundamental

Já alguma vez sentiste uma vontade tremenda de acreditar em Deus mas, apesar da imensidão do teu desejo, não seres capaz? Tu a esforçares-te por acreditar e... nada! A quem poderás atribuir a culpa de tão rotundo falhanço? Se Deus existe decerto que a culpa é Dele.

Sim, eu sei, é como fazem os putos, nunca têm culpa de nada, estão sempre a procurar outro a quem possam atribuir responsabilidades. Mas se formos de facto filhos de Deus estaremos apenas a deixar correr o marfim, a sermos aquilo que somos. Já Ele, tenho as minhas dúvidas de que ande a cumprir as Suas obrigações enquanto Pai da Humanidade.

sábado, agosto 28, 2021

Ordem natural

Não sei se sou só eu, também sentes que o espaço à tua volta se contrai e tende a encerrar-te o corpo numa espécie de nuvem ansiosa? Ainda assim a coisa não parece muito grave. Há tanta gente à minha volta, tanto ruído (um vozear constante), os lugares específicos são rapidamente ocupados... e as férias ainda não acabaram, mas a coisa não parece muito grave. Parece apenas banal.

É como com a galinha e o ovo; o que nasceu primeiro, a banalidade ou o desconforto por ela provocado? Talvez os peixes se sintam oprimidos pela água, talvez os canários não se apercebam das grades da gaiola. Viver é apenas duvidar? A vida é uma dúvida em expansão, cada dia a torna maior e mais intrincada, cada dia a torna mais difícil de questionar e explicar (quem pretende explicar a vida?) até que... acaba. Parece ridículo, patético.

Mas porquê? Porquê ridículo, porquê patético? Uma galinha sem cabeça a correr de encontro às paredes sim, é ridículo. Um cão vestido com uma roupinha de cetim é patético. Uma pessoa a morrer sem ter compreendido quase nada do que lhe aconteceu ao longo da sua existência é apenas a ordem natural das coisas.

sexta-feira, agosto 27, 2021

Carrossel macabro

Perante o descalabro da situação no Afeganistão muitos analistas concluem que os valores civilizacionais não se impõem pela força. Mas que merda de conclusão. Quantas guerras inúteis foram necessárias para lá chegarem? 

Ao longo dos anos tenho escrito aqui, no 100 Cabeças, sobre várias guerras promovidas pelos EUA com a anuência dos "aliados" ocidentais. Todas essas guerras foram motivadas por cobiça, ganância ou, não sei se pior um pouco, motivadas por uma boçalidade a toda a prova, fruto de uma ignorância sobranceira que, entretanto, se foi tornando uma maneira de estar dos poderosos (com Trump a representar o seu ápice).

Acreditar que a invasão do Iraque se deveu a motivos relacionados com direito internacional é o mesmo que acreditar que os Descobrimentos foram levados a cabo por um impulso civilizacional. Não, apesar dos séculos que medeiam estes acontecimentos, ambas as aventuras tiveram motivações essencialmente económicas. As questões religiosas ou políticas surgem por acréscimo, resultando inevitáveis na sequência da agressão. São mundos diferentes que entram em rota de colisão e depois... logo se vê.

O que pretendemos nós, ocidentais, exportar para países tão diferentes dos nossos como o Iraque ou o Afeganistão? Levamos num bolso os Direitos Humanos e no outro resmas de contratos manhosos nas mais diversas áreas da actividade económica. Primeiro arrasamos e depois reconstruímos passando a factura aos derrotados que contratam as nossas empresas para levarem a cabo a tão ansiada reconstrução.

Apostamos neste carrossel macabro de morte, destruição e dinheiro. Tentamos tirar-lhes o seu Deus e substituí-lo pelo nosso: o dólar todo-poderoso. Por que razão obscura haveriam os povos de caírem alegremente nesta armadilha fajuta?

Parece estúpido (e é) que haja quem só agora conclua que, se calhar, andamos há séculos a fazer merda da grossa por esse mundo fora. Que o nosso modelo de sociedade e as nossas guerras contribuem para a degradação das condições de vida da Humanidade, que os nossos valores não vingam em todo o mundo, que nunca seremos capazes de viver num planeta onde todos os povos tenham uma perspectiva de vida unificada e justa, segundo os nossos parâmetros. Se nem sequer conseguimos isso dentro das nossas fronteiras...

terça-feira, agosto 24, 2021

Grande vitória!

Por momentos acreditei que tinha encontrado a resposta. Senti-me seguro, quase sábio. Poucos momentos durou esta magnífica sensação. Logo de seguida regressei à condição de ignorante, hesitando perante situações de aparente simplicidade. Situações que já antes vivi mil vezes geram em mim uma angústia significativa.

Será sempre assim? Algum dia terei a certeza de ter percebido alguma coisa? À medida que o tempo se vai aproximando do seu fim (quanto tempo me resta?) nada muda de substancial. Talvez seja um pouco mais observador do que era antes mas essa capacidade apenas contribui para compreender com maior acuidade a real dimensão da minha ignorância.

Talvez sinta menos ansiedade, talvez esta lenta aproximação na direcção da meta da minha existência proporcione menos desespero perante certas ocasiões. Espero que isto seja verdadeiro. Talvez não consigamos nunca mais do que isso: diminuir a ansiedade. Já não seria mau; a impossibilidade da sageza compensada por uma espécie de estupidez natural. Grande vitória!

quinta-feira, agosto 12, 2021

Perseguição sem fim

Somos como uma matilha de cães abandonados, cada um perseguindo a própria cauda. No conjunto formamos uma sociedade bem patusca, como se fôssemos uma equipa de natação sincronizada evoluindo fora de água e sem tema musical que nos oriente.

Nenhum de nós é capaz de desistir desta perseguição implacável.

quarta-feira, agosto 04, 2021

Um dia de férias

Amanhã será mais um dia de férias. Posso ocupar o tempo fazendo o que quiser. Decerto irei ler mais um pouco do livro de Julian Barnes que comecei ontem (ou terá sido anteontem?), "Nada a temer". Depois irei comprar o jornal e ler preguiçosamente as notícias. Quanto mais leio o jornal mais me convenço que a nossa luta enquanto espécie que pretende sobreviver (por enquanto ainda não desesperadamente) é contra a estupidez.

A estupidez é a mais arrasadora de todas as pandemias que alguma vez se alimentaram da Humanidade. Apesar de algumas vacinas interessantes os negacionistas levam sempre a melhor. 

1% prá Cultura, como diz o outro. Mas, lá está, é preciso ver quem é esse "outro". Proclamar amor pelas artes não é nenhum atestado de imunidade ao vírus da estupidez mais pura ou ao da estupidez mais simples. Estamos todos iludidos pelo espelho  e ficamo-nos pela coçadela dos tomates.

O que é bom nem sempre alivia (e vice-versa).

Ah. já me esquecia, estava eu a falar do que imagino que irei fazer amanhã. Após a literatura irei decerto desenhar um bocado, ver umas cenas dos Jogos Olímpicos, desenhar um bocado, ler um pouco, ver umas cenas dos Jogos Olímpicos e, finalmente, desenhar um bocado.

Se tudo correr bem o tempo há-de passar e eu chegarei vivo ao fim de mais um dia.

segunda-feira, agosto 02, 2021

Coisas da criação

O que pode desejar alguém que não existe? Comidinha? Música para os seus hipotéticos ouvidos? Uma caminhada na praia debaixo de um sol que não seja demasiado castigador... se não existe pode desejar alguma coisa? Alguma coisa que seja sua?

O que pode desejar uma personagem que não seja desejo do seu criador? Pode alguém que é inventado inventar algo? Pode o inventor cortar o cordel umbilical sem que a sua personagem morra ali, de imediato, fulminada por um raio que a parta? Até que ponto criador e personagem são uma e a mesma coisa? Até que ponto são coisas diferentes?

Tantas perguntas que talvez não mereçam resposta. E haveria muitas mais.