terça-feira, maio 31, 2022

Haja ordem

    Quando certas questões de direitos humanos se aproximam de fronteira do intolerável e as vozes se erguem, bradando aos céus, surge sempre um maestro para pôr ordem na gritaria. É o maestro da "real politik" quem, batuta em punho, gestos categóricos, se encarrega de afinar o coro. Nada de vozes fora do tom, nada de vozes sobrepostas, ordem! 

    A coro deve afinar pela cartilha da Economia. 

        

sexta-feira, maio 27, 2022

Narciso ao fundo

    O mundo em que vivemos não me parece muito nosso amigo. São demasiadas as ocasiões em que fico com a sensação de que o mundo nos está a empurrar para o lado, a por-nos à beira do prato, como se fôssemos coisas intragáveis. E não é apenas o mundo inteiro, aquilo a que também chamamos planeta, é o mundo por nós construído para nele vivermos.

    Criamos leis, traçamos fronteiras, damos nomes específicos a espaços virtuais e dizemos que aquilo são nações. Plantamos um orgulho imbecil no peito cada indivíduo que regamos com discursos inflamados e histórias-de-ir-ao-cu, fazemo-los acreditar que a sua honra e a sua felicidade dependem do grau de entusiasmo com que entregam a sua alma à tal nação. O extraordinário é que a maioria das pessoas acredita nestas patranhas. E temos o mundo entornado.

    Gostamos de nos imaginar melhores do que somos. Narciso é que sabia! Ele compreendeu a essência das coisas todas ao olhar-se no espelho das águas. Acabou afogado na morbidez do seu desejo. Não acabamos todos? Não é esse o atroz destino da Humanidade?

quarta-feira, maio 25, 2022

Carne para churrasco

     A figura do soldado russo condenado a prisão perpétua por ter morto a tiro um civil ucraniano é uma imagem terrível de frustração e arrependimento. Uma criança a quem deram uma arma e mandaram para frente de guerra. E a criança fez o que era suposto fazer: matou.

    A condenação deste desgraçado parece-me um acto desesperado de castigar não se sabe bem o quê. O tribunal julgou o soldadito russo mas, lá bem no fundo, está a julgar aqueles que nunca sentarão o cu num banco de tribunal, os mandantes, os senhores da guerra, velhos machos brancos com cabelos pintados e as trombas maquilhadas quando fazem os seus números de palhaço mau nas televisões.

    As mortes violentas continuam a ferir a Humanidade todos os santos dias e os senhores dos exércitos não páram. Amanhã enviarão mais mil soldaditos para a frente de guerra. Os soldaditos irão pegar nas suas metralhadoras para se matarem uns aos outros e atirando sobre tudo o que mexe pois tudo o que mexe lhes haverá de meter medo.

    Se o diabo for justo sabemos todos quem deverá arder no churrasco do inferno.

terça-feira, maio 24, 2022

Regressão

     Cada vez mais cresce a sensação de que estou a ser enganado. Quem me engana? O mundo todo! O mundo engana-me a cada passo, ilude-me a todo o momento. Eu sei que estou a ser enganado e iludido mas não consigo fazer nada contra isso. Ainda que tente não sou capaz de evitar o engano e a ilusão.

      Este episódio da guerra na Ucrânia, por exemplo. Não tenho hipótese de construir uma ideia que não seja imediatamente posta em causa. Se vi uma reportagem ou li um texto de opinião que me influenciaram a construir determinada perspectiva, logo surge o seu inverso simétrico. O símbolo do Yin Yang feito mundo, feito sentido total, verdade absoluta!

      Mas logo surge outro símbolo, outra combinação de formas capaz de mostrar que o mundo não é a preto e branco nem o círculo a melhor forma de o representar. E explode a cor, revolve-se a forma, tudo acontece bem como o seu contrário. E eu?

       Eu? Quem se importa com aquilo em que acredito? Será que alguém está disponível para me compreender!? Socorro!!! Sou um Benjamin Button, a minha idade mental entrou em regressão. Lendo o que escrevi aqui mesmo acima posso concluir que estou a atravessar a adolescência, vou em direcção à infância. 

      Um dia mais além, sem dentes nem cabelo, com a coluna vertebral deformada numa posição próxima da posição fetal, serei de novo bebé. Alguém que me aconchegue e me dê um beijinho.

domingo, maio 22, 2022

Punitivo cigarro

      Se fosse rei tinha oferecido o reino dele por um cigarro mas como não era rei limitou-se a olhar pela janela. Que suja! Mal conseguia perceber os corpos do lado de lá. Tanto podia ser um cão como um gato, um homem ou uma mulher, uma cadeira ou uma mesa, as formas não faziam todo o sentido, aproximavam-se apenas daquilo que eram. Não havia meio de esquecer aquela terrível vontade de fumar um cigarro.Se fosse rei havia de ameaçar aquele outro gajo com o cadafalso: um cigarro, palhaço, se tens amor à vida é melhor que me dês um cigarro! Não sendo rei não intimidava ninguém. Nem mesmo a si próprio.Na verdade estava apenas desesperado por um cigarrito.

    Bom, vou lá fora fumar um antes que me salte a tampa.

sexta-feira, maio 20, 2022

Direito à existência

     Por vezes sinto que as coisas que escrevo, embora façam todo o sentido dentro da minha cabeça e sejam facilmente entendidas segundo o meu modo de pensar, pouco ou nenhum sentido fazem para ti, hipotético leitor. O post anterior, por exemplo, que confusão!

    Isto acontecerá porque, na esmagadora maioria das vezes, escrevo estes textos ao correr do teclado e quase nunca os revejo ou, se os revejo, limito-me a retocá-los tentando não escorregar demasiadamente nas curvas e contracurvas da gramática. 

    Mas sei que a questão da dificuldade de compreensão não será exclusivamente atribuível à forma da escrita, decerto haverá complexidades inextricáveis no que toca a questões de conteúdo. Pensamentos nebulosos, ideias serpenteantes, objectos surreais. 

    A verdade é que, imagino eu, há uma relação umbilical entre o que escrevo e o que desenho com visíveis vantagens para o desenho e a pintura. A linguagem visual permite ampliar ao infinito a ambiguidade da mensagem. O campo da ambiguidade é a minha verdadeira casa, o palácio da sabedoria diabólica que imagino ter comerciado com o Velho Cavalheiro nalgum dia da alucinação absoluta. Não sei, não tenho a certeza, não me lembro.

    Seja como for, regresso ao início: as coisas que escrevo são muitas vezes tão baças, tão confusas e indefinidas que melhor seria que as tivesse fechado num saco e atirado ao rio mal me tivessem nascido dentro da cabeça. Ou não? Será que todas as ideias, mesmo aquelas que não se percebem que são feias de tão confusas, têm direito a entrar neste mundo, passando a existir?

    É esta uma reflexão que te proponho, resistente leitor: têm todas as ideias direito a um lugar neste mundo perdido na imensidão do universo?

quinta-feira, maio 19, 2022

Auto-ajuda e preconceito

     Parece-me estranha a expressão "auto-ajuda", ainda mais quando aplicada a certas publicações em forma de livro. Se o objecto é escrito por fulano e comprado por sicrano com o intuito dele receber algum tipo de ajuda, não me parece correcto meter aqui o "auto". A haver algum tipo de ajuda ela é exterior ao sujeito que dela beneficie. A menos que a tal "auto-ajuda" se refira ao facto de o autor beneficiar monetariamente do fruto do seu esforço por tornar o mundo um lugar melhor.

    Estaria aqui a chegar à conclusão de que a ajuda em análise é oferecida a si próprio pelo criador do objecto, tal como acontecerá com a esmagadora maioria dos criadores de objectos que logram vendê-los lucrando algo com isso. Não afirmo que seja esse o fito absoluto de quem escreve uma coisa daquelas mas, pronto, se se trata de ajudar alguém...

    Evito esforçadamente referir-me directamente ao conteúdo desses volumes de folhas em forma de livro por nunca ter lido nenhum. 

    - O quê? Nunca leste nenhum desses livros e escreves este post? - pergunta o leitor indignado com um ligeiro estremecimento na voz.
    - Pois, é verdade. - respondo eu vagamente ruborizado.

    Que posso fazer? Sou um tipo preconceituoso em relação a várias coisas, à bondade desinteressada em forma de objecto artístico, por exemplo. Custa-me acreditar na santidade seja de quem for, é-me impossível acreditar na santidade daqueles que se afirmam santos.

quarta-feira, maio 18, 2022

Cansaço

     Acabo de me aperceber que estou farto de ler no Facebook chalaças merdosas sobre a guerra na Ucrânia. Sejam os apoiantes de Putin (que têm sempre o cuidado de dizer que não são apoiantes de Putin) a fazerem humor parvo sobre as notícias ou o suposto instinto assassino dos soldados da ex-união-que-eles-tanto-adoraram; sejam os apoiantes de Zelensky a tentarem fazer humor com a duplicidade habitual dos russos ou com a suposta fraqueza do exército-não-muito-vermelho; sejam uns ou outros, não há paciência para os aturar.

    Aquelas conversas, sempre cheias de espinhos e facas escondidas, não servem para nada, não têm outro objectivo que não seja enaltecer uma suposta superioridade moral do palhaço que se manifesta e raramente têm alguma piada, de facto. São quase sempre pessoas que pretendem mostrar que têm razão, que são mais inteligentes que as outras, as que não pensam como elas. Isto partindo do princípio que alguém ainda se dá ao trabalho de pensar naquilo que escreve e que não se limita a empurrar os seus preconceitos para a frente, a mostrá-los como se fossem pérolas e a sugerir que os seus antagonistas são porcos a quem essas preciosidades estão sendo oferecidas.

    Estou cansado desta gente toda.

terça-feira, maio 17, 2022

Ter sensações

     A vida pode ser muito decepcionante. Temos expectativas em relação a determinadas coisas, uma certa perspectiva dos acontecimentos por vir, imaginamos o nosso papel num determinado teatro que, como dizia o outro, é representado no palco da vida e feitas as contas... népias. Correu tudo ao contrário, as coisas não resultaram. Decorar o texto não era, afinal, a verdadeira solução para encontrar o caminho da felicidade.

    Não tenho bem a certeza mas sinto que a passagem do tempo não ajuda muito a sossegar o espírito. Tenho a sensação de que exagero nas expectativas que vou construindo em relação a mim próprio. Sermos o herói do nosso próprio filme não contribui de forma particularmente brilhante na definição da personagem. Começo a perceber que as minhas qualidades se vão degradando ou, pelo menos, que vão perdendo actualidade, sendo progressivamente menos interessantes.

    Reflectindo um pouco melhor. Tenho a sensação de que os meus ensinamentos vão fazendo cada vez menos eco entre os miúdos, sinto progressiva dificuldade em chegar-lhes ao espírito. Já em relação a pessoas mais velhas, mais próximas da minha idade, penso ir ganhando capacidade de as interessar pelos mais diversos assuntos, caso seja essa a minha intenção. Poderei estar a ser pretensioso mas essa é a minha sensação.

    Resumindo, já ia sendo tempo de me reformar. A distância entre mim e os meus alunos começa a tornar-se penosa para mim e, imagino, também para eles. Merecem alguém mais ingénuo e menos paciente, alguém que seja capaz de ficar indiferente perante a sua indiferença.

sexta-feira, maio 13, 2022

6ª 13

     Sexta-feira 13 é dia de azar mas não este ano. Esta sexta-feira coincide com o 13 de Maio, dia de aparição da Virgem como é sabido pela maioria da população portuguesa. Digo da maioria pois tenho cá a impressão de que esta tradição maravilhosa começa a perder o seu fulgor e o seu significado. Ok, eu sei, a Cova de Iria continua a encher-se de multidões de devotos chegados de todos os cantos do mundo em busca de paz e de espiritualidade mas a Fé vai-se esvaindo a cada geração que passa.

    A contribuir para a diminuição da Fé teremos também o comportamento das altas esferas da hierarquia portuguesa da igreja católica apostólica romana no que respeita às denúncias de abusos sexuais por parte dos seus sacerdotes ao longo dos tempos, embora a atenção se foque apenas nas décadas mais recentes. Como pode alguém continuar a participar dos actos litúrgicos sem que se lhe revolva ligeiramente a tripa ao imaginar o que se poderá ter passado lá atrás, na sacristia?

    Isto de misturar Fé e misticismo é um caldo fácil de obter mas difícil de tragar. Isto de misturar criancinhas e religião também não parece conduzir a resultados particularmente fiáveis. Porque não deixar as criancinhas em paz, mantendo-as longe da padralhada enquanto não tiverem capacidade suficiente para aplicar um valente tabefe nas trombas de quem se aproximar demasiado?

     Concluo este post derrapante reconhecendo que não era esta a direcção que pretendia tomar quando comecei a escrevê-lo. Acho que acabei por me estampar. Afinal de contas é um 6ª 13, dia de grandes azares.

quinta-feira, maio 12, 2022

Drogada

     Enquanto conduzia o meu carro a gasóleo em direcção a uma estação de lavagem, daquelas que têm um elefante azul a borrifar-se com a própria tromba, formou-se-me no espírito uma desagradável imagem. Tive um vislumbre da Humanidade como um todo (talvez influenciado por certas correntes de pensamento que imaginam Deus como sendo a reunião de todas as almas, um super-não-ser, algo desse género). Bom, dizia eu: a Humanidade como um todo, todos os corpos, todos os espíritos, algo difícil de explicar. Tão difícil como aquela tal imagem de Deus.

    O desagradável da visão não foi a reunião de todos nós num único corpo (isso até é potencialmente bonito), o que me arrepiou um pouco foi ter tido a percepção de que esta tal Humanidade é uma espécie de drogada, uma toxicodependente agarrada ao consumo do Planeta. O nosso comportamento auto-destrutivo é imparável. Apesar de sabermos que o consumo selvático do planeta significa a ruína do nosso corpo e do nosso espírito, enquanto Humanidade não damos mostras de abrandamento na satisfação desta dependência. Antes pelo contrário.

    Como qualquer drogado banal, a Humanidade continua a consumir apenas para se sentir capaz de viver mais um dia. Amanhã? Logo se vê.

quarta-feira, maio 11, 2022

Sem título é título?

     Uma obra de arte sem título é uma obra de arte intitulada? Esta dúvida parece-me pertinente embora reconheça em mim uma certa ignorância em termos de arte contemporânea, área espacial onde prolifera este... não título?

    Se considerarmos "sem título" como sendo uma designação particular de uma obra específica estaremos a admitir um oceano conceptual, cujas ondas, todas semelhantes, vêm bater as areias da praia do nosso entendimento arrastando consigo uma parafernália confusa. Ele são obras de pintura, de escultura, ready-made, desenhos, instalações e o mais que a imaginação e engenho artísticos sejam capazes de conceber. Sem título, sem título, sem título, sem título, um dia que alguém se dedique a contabilizar as obras "sem título" tem ali empreitada para uma vida inteira.

    Imagino que ao intitular uma obra com "sem título" (continuo a não ser capaz de decidir se se trata ou não de um título) o criador esteja a abrir o campo de significados de modo a convidar o espectador a completar-lhe o sentido. Assim mesmo, sem muleta nem indicador em riste; amanha-te espectador que tens muito boa idade para seres emancipado. É bom. 

    É bom espicaçar os sentidos de quem se pranta perante um objecto artístico tentando que ultrapasse uma certa tendência para o olhar bovino com que muitos de nós presenteiam a arte, quantas vezes com um croquetezinho na mão e a mania que somos espertos a desviar-nos a atenção, a fazer-nos concentrar sobre nós próprios... já estou a desviar-me do assunto. 

    Recentremos: o facto de uma obra de arte ser acompanhada de uma etiqueta que anuncia "sem título" contribui de forma eficaz para convidar o espectador ao mergulho no seu presumível mar de significados? Recentremos recuando um pouco mais: é "sem título" um título? Aqui chegados dir-me-ás, leitor espectador, "mas o que queres tu com esta conversa toda?" Se eu soubesse  dizia-te mas, a verdade, é que estou tão longe de uma conclusão que a dissertação sobre este assunto arriscar-se-ia a tornar-se num aborrecimento tendencialmente infinito e sabemos muito bem como este post já vai longo e tu estás a ficar farto de ler esta merda, a pensar como é bom ler  tweets ou clicar likes no facebook à razão de dois por segundo.

    Fico por aqui. Mais tarde cá voltarei, se ainda aí estiveres.

segunda-feira, maio 09, 2022

Privilégio

     Pensando bem sobre o assunto, toda a vida fiz parte de um grupo de privilegiados. Considerando que não passar fome é um privilégio, que ter uma casa decente é um privilégio, que viver a vida adulta sem a sombra de uma guerra a toldar-me o futuro é um privilégio, que ter, pelo menos, a ilusão de viver num Estado de Direito é um privilégio... poderia continuar a lista dos privilégios que me douram a pílula mas penso que já percebeste onde quero chegar, melancólico leitor.

    Pensando bem sobre o assunto, nunca fiz grande coisa para combater as injustiças que, assim como assim, vão empestando o dócil ambiente desta minha existência privilegiada. Participei em várias manifestações, assisti a um par de cargas de polícia de choque (nunca levei nenhuma bastonada nem inspirei gás lacrimogéneo), participei em acesas discussões (normalmente na tasca ou à porta dela), escrevi uns quantos textos mais ou menos incendiários que foram publicados no espaço das Cartas ao Director do jornal Público, participei em exposições de artes plásticas, algumas provocatórias outras nem por isso, enfim, coisas de burguês, talvez mesmo de pequeno burguês, nem mais nem muito menos. 

    Faço parte do Sindicato desde que comecei a trabalhar (apesar de não depositar grande fé no Sindicato), participei em Fanzines e grupos de Teatro, escrevi peças de carácter eventualmente revolucionário ou, pelo menos, contestatárias, nas minhas aulas não se pode dizer que fomente a apatia intelectual o que, só por si, é já um acto político. Enfim, coisas de alguém para quem é fácil acreditar numa série de chavões relacionados com a Paz, com a Justiça Social, com a Solidariedade; tudo muito baseado na imagem e na palavra, uma vez ou outra relacionado com acções efectivas e consequentes.

   Tudo isto para te dizer, caso ainda aí estejas, que não é preciso grande coisa para sermos uns privilegiados. Basta não termos uma vida de merda.

sexta-feira, maio 06, 2022

Sempre a perder

     Os dias vão passando e as notícias sobre a guerra começam a entrar em velocidade de cruzeiro. Os telejornais continuam a abrir com a habitual contabilidade de mortos e feridos. É como uma extensão das notícias durante os tempos da pandemia: morreram tantas pessoas, foram internadas outras tantas, etc., etc. Os números de vítimas mortais podem ser arredondados com um terramoto algures, um deslizamento de terras alhures, um tiroteio numa escola norte-americana, tudo serve para compor o ramalhete.

    Este fascínio pela morte arrepia-me um pouco e irrita-me muito. É um vampirismo apático, um desejo latente por desgraças alheias, um voyeurismo melancólico. Como se necessitássemos de observar a miséria dos outros por forma a amansar a nossa própria sensação de  perda.