sexta-feira, setembro 24, 2021

Conversa de merda

Se pudesse fazer acontecer aquilo que desejasse... um acontecimento apenas, aquilo que desejasse, como o Aladino... seria eu capaz de pensar no planeta e esquecer o corpo que me alberga? Se pudesse salvar a Humanidade invocando um milagre qualquer (que de momento não me ocorre) ou, em alternativa, pudesse garantir uma vida magnífica para mim próprio nos anos que me restam e para a minha descendência enquanto durar a Eternidade... qual seria a minha escolha?

Suspendo por momentos o acto de pensar. Retomo a actividade e percebo que estou a fazer uma reflexão de merda. Vou visitar aquela exposição ou fico em casa? Esta sim, é uma dúvida importante no futuro imediato.

terça-feira, setembro 21, 2021

Morte aos feios!

Nos últimos dias tenho matutado sobre as qualidades exigidas (ou não) aos candidatos às eleições autárquicas do próximo Domingo. Sendo esta a disputa eleitoral mais abrangente, a que exige um maior esforço popular de participação em termos de disponibilidade para o exercício de cargos na "coisa pública", era de esperar que surgissem uns quantos cromos. Perfeitamente natural.

Não estava era preparado para a enormidade de certos cromos que vão aparecendo. Alguns são maluquinhos de camisa-de-forças, sem tirar nem pôr.

Para ser professor é-me exigido um certificado de "robustez física e mental". Ok, eu sei como esse documento é lavrado, mas não deixa de ser uma exigência que tenta evitar que as crianças fiquem expostas a algum maluquinho-de-hospício. E para ser presidente da junta? Pode um candidato ser completa e absolutamente lunático? Pelos vistos pode.

Estou para aqui preocupado com meia dúzia de juntas de freguesia e uma ou outra câmara municipal perdidas no portugalzinho profundo, quando os dois maiores exemplos de malucos perigosos eleitos o foram para a presidência da república. Do Brasil e dos Estados Unidos. Nestes casos com a agravante de terem sido eleitos dois sociopatas narcisistas e, ainda por cima, feios pra caralho. 

Caso para proclamar a "morte aos feios"?

sexta-feira, setembro 17, 2021

No future

No future. A velha palavra de ordem que tanto me fez saltar e espernear quando era ainda um teenager sem juízo que pudesse ignorar parece estar de regresso. O contexto é outro, a envolvência muito diferente mas, imagino eu, a sensação de vazio que ora te põe em pulgas ora te deixa prostrado é decerto semelhante.

Nos anos 70 o problema era a Guerra Fria e a iminência de uma guerra nuclear que arrasasse o planeta de um momento para o outro. Esta pressão constante fazia com que fosse urgente viver tudo, "a vida num só dia", aproveitar cada minuto para rebentar a cabeça e explodir em delírio permanente. A música punk é uma boa metáfora de como nos sentíamos.

Neste final do primeiro quartel do século XXI o problema é a certeza da degradação das condições de vida sobre o planeta devido à poluição e às alterações climáticas. Embora saibamos qual o final anunciado devido aos constantes spoilers produzidos pelos cientistas sobre a História da Humanidade, não somos capazes de evitar o desastre. A nossa sociedade global já não consegue travar a tempo de evitar o mergulho no precipício.

Antes o temor da morte súbita, agora a certeza da morte lenta. Isto não são invenções ou delírios juvenis, são coisas que acontecem. O Ser Humano não tem hipóteses de ser outra coisa a não ser predador de si próprio. Somos como o tal escorpião que atravessa o rio no lombo do sapo.

terça-feira, setembro 14, 2021

Magia a preto e branco (outras vezes com cores)

                                           Monstro, canetas de gel sobre papel, 50X65cm

 

Tenho receio de ser mal compreendido. Tenho receio de ser demasiado bem compreendido. Do mesmo modo, tenho receio de eu próprio não ter compreendido. O melhor é deixar cada um compreender aquilo que for capaz de compreender e não pensar mais nisso, deixar a coisa passar e fazer outro desenho. É sempre assim, após realizar um desenho começo a pensar no seguinte. 

É como um rio de imagens que nasce algures dentro da minha cabeça e corre por mim abaixo até me encontrar as pontas dos dedos e as canetas, os pincéis, os pastéis, os lápis, os tubos de cola, as tesouras, as superfícies de suporte. Aquilo vai tudo de enxurrada! Plof, catrapumbas, slooooosh... as imagens ganham forma e têm sempre um título.

Forma e conteúdo, técnica e narrativa. Esta magia é maravilhosa. O que está ali, naquele papel, naquela imagem? Tantas coisas, tantos mundos, tantas histórias diferentes. Esta magia é maravilhosa...


terça-feira, setembro 07, 2021

Mais um dia no reino da tua cabeça

O dia hesita em começar apesar de trazer a minha cabeça ligada há já uma hora, um pouco mais ou menos. Arrasto-me para aqui, empilho meia-dúzia de livros, deslizo para ali, enfio uns desenhos numa pasta e fecho a caixa de lata dos pastéis de óleo. Sento-me em frente ao computador e vou escrevendo isto. O dia já começa a deitar a cabecita de fora mas continua receoso de mostrar o corpo inteiro. 

Não espero nada de especial deste dia. Imagino que ele tenha o mesmo sentimento em relação a mim. Sinto-me estúpido quando digo que "é um dia igual aos outros" porque um dia nunca é igual a nenhum outro. Os dias são sempre diferentes, talvez os haja parecidos mas iguais? Isso nunca. 

Será por isso que muitos de nós se predispõem a vivê-los, um dia atrás do outro, na esperança que aconteça algo de surpreendente, algo inspirador, algo que faça sentido ou que confira algum sentido ao facto de estarmos vivos. Arrastamo-nos para aqui e trocamos dois dedos de conversa com o vizinho de baixo, deslizamos para ali e bebemos um cafézinho na esplanada, sentamo-nos em frente ao rio e ficamos uns momentos a fitar a linha do horizonte. Estas coisas acontecem.

sábado, setembro 04, 2021

Do sarcasmo

Por vezes sinto uma vontade descontrolada de ser ácido, sarcástico e usar as palavras como pequenas marretas nas cabeças de algumas pessoas que, por uma razão ou por outra, me foram desagradáveis. Sinto um ligeiro remorso mas sabe tão bem que não evito fazê-lo. De forma nenhuma!

E lá vem o problema: o facto de me ser aprazível zurzir tolices na paciência de outras pessoas dá-me esse direito? E se os outros me responderem à letra? É bem feito. E se me responderem fora do contexto com insultos directos e deselegantes? Já não me parece tão bem feito, mas acontece. O jogo do sarcasmo tem regras que se intuem mas que não estão ao alcance de qualquer macaco. Há demasiada gente com o sentido de humor de um armário de cozinha, gente que não é capaz de encaixar uma boca marada sem reagir atacando à bomba.

A meu ver precisamos de exercitar o sarcasmo com maior regularidade e outra paixão. Precisamos de ensiná-lo nas escolas, de veiculá-lo nos meios de comunicação social, precisamos de o estudar praticando-o. Estarei a ser sarcástico à medida que vou escrevendo este texto? Não sei e se soubesse também não te dizia.