Aquele momento em que se apercebia de que o sono acabava e o estado de vigília viria tomar o lugar que lhe cabia, aparentemente, por direito, aquele momento era o seu preferido. Apercebia-se de que havia uma alma dentro dele, um fantasma que o habitava como se fosse uma casa assombrada. E isso era-lhe extremamente agradável. Sentia que a vida tinha um propósito.
Aquele momento marcava com precisão a passagem do sonho para a realidade, era a prova de que a vida é uma continuidade, que poderia ser eterna não fosse a eternidade um logro.
O fantasma entrava no saco de pele e ossos que haveria de lhe servir como veículo para o tempo em que estivesse acordado e lá se deslocava, desajeitado, a lutar constantemente com a gravidade e outras leis que limitam as possibilidades da poesia sempre que se está deste lado. As leis que fazem de nós seres humanos e dão uma forma tangível às coisas e lhes atribuem os nomes pelos quais as conhecemos.
Tanto para fazer e tanto que nunca haverá de ser feito!
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