Não há nada a fazer, a espécie humana é uma espécie suicida. Aprimorando a frase anterior: a espécie humana é um zombie suicida. "Um zombie suicida?" - interrogas-te tu, prezadíssimo leitor. Sim, porque se trata de uma aparente contradição, como pode um morto-vivo suicidar-se? Pode. Pode suicidar-se um bocadinho. Não pode matar a sua parte morta mas pode matar a sua parte viva.
Se atentarmos bem na Aldeia Global, poderemos constatar que os seus habitantes, sejam branquelas ou pretos, badochas ou magricelas, ricos ou miseráveis, todos, mas mesmo todos eles, estão já mais mortos que vivos. São zombies, portanto.
Por um lado, quando nascem (quando nascemos) começam (começamos) de imediato a morrer. É uma crueldade divina mas é a nossa condição e a de todos os seres vivos. O planeta é habitado por seres que estão constantemente a morrer e a nascer, a nascer e a morrer. Esta é a parte que explica a generalizada condição zombírica (zombífica?) da bicharada.
Por outro lado temos a pulsão consumista que nos empurra em direcção ao precipício. Temos pressa em acabar com a nossa própria raça. Inventamos armas de destruição maciça, desenvolvemos modelos de veneração de deuses económicos que nos impelem à autofagia, conspurcamos o planeta como se viver com o peito enfiado na merda fosse uma coisa agradável.
Todos sabemos que é assim, todos percebemos que estamos a contribuir para a aniquilação da nossa espécie mas, apesar dos discursos, das manifestações cívicas, da arte, da ciência e o o diabo a quatro, continuamos a afundar-nos alegremente. Suicidamos a nossa parte que está viva de modo a equilibrá-la com a nossa parte que nasce morta (e que vai crescendo ao longo das nossas vidas).
É apenas trágico, não tem nada de bonito.
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