Admitir a possibilidade de que uma raposa possa guardar com recato a porta do galinheiro faz de quem nisso acredita um candidato a anjo sem medo que nas costas lhe nasçam asas. É como pôr um liberal a legislar sobre os direitos dos trabalhadores ou um pastor evangélico na recepção de um hospital público. Há coisas que não se deviam sequer imaginar, quanto mais fazerem-se!
A capacidade de confiar nos outros é uma das riquezas que o mundo coloca à nossa disposição assim possamos encontrar conforto suficiente para dela podermos usufruir. A confiança é essencial num espaço de convivência democrática. Mas, pode a galinha confiar na raposa? Pode o trabalhador confiar no liberal ou o doentinho confiar no pastor?
A desconfiança é o lado sujo da moeda. No entanto é imprescindível para a nutrição dos poderosos, é o que os ajuda a crescer e a serem grandes. Terá havido alguma vez na História uma personagem poderosa (daquelas mesmo bué poderosas) que não se tivesse empanturrado com desconfiança à medida que ia subindo os degraus que conduzem ao lugar onde repousa o trono? Duvido.
Cristo, que foi quem sabemos, acabou alto mas pregado numa cruz. Ele veio explicar-nos que o mundo não é lugar de justiça. Justiça? Com sorte talvez no Outro Mundo e mesmo aí...
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