terça-feira, junho 14, 2022

Inconstância

     É assim, afinal sou um gajo inconstante apesar de imaginar o contrário. O facto de estar próximo de tropeçar no meu sexagésimo aniversário não contribui de forma decisiva para que me torne uma pessoa sólida como uma estátua clássica. Sinto-me antes um mobile de Calder.

    Tem dias em que me contenho para não escrever diversos posts, noutros surge o tema, surge a vontade mas falta a oportunidade mas, o mais comum, é apetecer-me ser um bovino e ir pastar para a encosta verdejante de uma colina açoriana. Passo vários dias sem escrever nada neste recanto perdido do mundo virtual.

    Talvez esta inconstância tenha a ver com um certo temperamento artístico que me anima e me faz sonhar. Acredito piamente no impulso e nas qualidades profiláticas dos erros que cometo. A criatividade não tem regras definidas e quem nisso acredita ou é ingénuo ou demasiado vaidoso para admitir que aquilo a que chama "estilo" pouco mais é do que incapacidade de fazer outra coisa que não aquilo. Quase exactamente. 5% de inspiração e 95% de transpiração? Que pivete.

    É evidente que a prática e a técnica são elementos fundamentais no trabalho artístico. Principalmente quando andamos nisto há várias décadas e a inspiração febril dos nossos vinte anos já se gastou ou está à beira da extinção. É aí que nos tornamos cerebrais, professorais e, em raros casos, haverá quem se torne genial. Mas não há nada que substitua o glamour da inconstância.

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