sexta-feira, agosto 15, 2025

Erudição

     Gostava tanto de ser um erudito. Caramba, se gostava! Se não desse tanto trabalho haveria de ser um erudito. Sendo assim, não sou. Não posso ser, não consigo. Faltam-me toneladas de páginas, quilómetros de palavras, imensidões que nunca olharei, reflexões que nunca poderei fazer. Tenho pena.

    Ultimamente talvez este meu secreto desejo esteja discretamente a perder força dentro de mim. Não é por nada, apenas que a erudição tem vindo a perder valor na bolsa de activos da popularidade. Ser bronco parece estar a dar muito mais do que mostrar algum tipo de conhecimento e capacidade de reflexão. Ainda assim não invejo os broncos por serem o que são. Mas faço de conta que não penso nesses assuntos.

    Como, lá no fundo, um gajo quer ser qualquer coisa desde que isso lhe confira alguma popularidade e a erudição anda pelas ruas da amargura... bom, talvez eu possa pensar numa outra opção. 

    Num tempo em que o homem mais poderoso do mundo é um mentecapto em nítida regressão, um homem que se aproxima da amiba a cada dia que passa, será natural que os toscos, os estúpidos e os imbecis se sintam vingados. Os intelectuais, os eruditos, essa gentalha que tem a mania que sabe coisas, tem aqui a prova viva de que a boçalidade e a ignorância mais rasteira podem constituir e enformar o poder mais poderoso. Toma!

    E pronto. Se calhar não é assim tão deprimente saber que nunca poderei ser um erudito. Talvez eu possa ser um estúpido imbecil e sentir-me realizado com isso. 

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