Gostava tanto de ser um erudito. Caramba, se gostava! Se não desse tanto trabalho haveria de ser um erudito. Sendo assim, não sou. Não posso ser, não consigo. Faltam-me toneladas de páginas, quilómetros de palavras, imensidões que nunca olharei, reflexões que nunca poderei fazer. Tenho pena.
Ultimamente talvez este meu secreto desejo esteja discretamente a perder força dentro de mim. Não é por nada, apenas que a erudição tem vindo a perder valor na bolsa de activos da popularidade. Ser bronco parece estar a dar muito mais do que mostrar algum tipo de conhecimento e capacidade de reflexão. Ainda assim não invejo os broncos por serem o que são. Mas faço de conta que não penso nesses assuntos.
Como, lá no fundo, um gajo quer ser qualquer coisa desde que isso lhe confira alguma popularidade e a erudição anda pelas ruas da amargura... bom, talvez eu possa pensar numa outra opção.
Num tempo em que o homem mais poderoso do mundo é um mentecapto em nítida regressão, um homem que se aproxima da amiba a cada dia que passa, será natural que os toscos, os estúpidos e os imbecis se sintam vingados. Os intelectuais, os eruditos, essa gentalha que tem a mania que sabe coisas, tem aqui a prova viva de que a boçalidade e a ignorância mais rasteira podem constituir e enformar o poder mais poderoso. Toma!
E pronto. Se calhar não é assim tão deprimente saber que nunca poderei ser um erudito. Talvez eu possa ser um estúpido imbecil e sentir-me realizado com isso.
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