Os dias decorriam todos iguais como se o tempo fosse um reflexo de si próprio no espelho da sua existência. O sol chegava, fixava-se no céu e por lá ficava até a lua vir marcar o ponto. Os dias sucediam-se com a normalidade habitual e ele cumpria as rotinas sem entusiasmo mas também sem qualquer angústia especial.
Vivera toda a sua vida sem grandes medos. Nunca tivera fome a não ser por momentos ou por algumas horas sabendo que saciá-la era uma questão de oportunidade. O mesmo se passava com o frio ou com qualquer outro incómodo que pudesse assaltá-lo. A coisa sempre se resolveu com a naturalidade com que as coisas se resolvem na vida de quem vive uma vida sossegada.
No entanto algo estava a mudar. Sentia-o bem. Era como se uma coisa má se viesse instalando no seu pequeno e ordenado mundo. Algo vagamente perceptível; um sufoco, um arrepio, um desregulamento que se insinuava entre o sol e a lua. Naquela noite teve dificuldade em adormecer e sonhou um terrível pesadelo.
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