Deu a sua palavra de honra: não sentira inveja! Jurava a pés juntos que não houvera qualquer impulso, qualquer movimento subreptício, nada; nadinha! Nadinha de nada!!! Que o deixassem em paz, queria ir à sua vida. Mas os dois polícias não estavam pelos ajustes, muito longe de estarem convencidos pela história daquele tipo.
Aos olhos de qualquer cidadão de bem aquele era um cidadão muito suspeito. Olhando-o dos pés à cabeça: botas da tropa mal engraxadas, a esquerda com a "boca aberta", a direita com 3 pregos salientes e ameaçadores a espreitarem um pouco acima da sola; calças mais rotas que cozidas, mas rotas pelo uso e não pela vontade de estar na moda, sujas...! Uma espécie de t-shirt, também ela bastante esburacada, com uma imagem de Jesus e a inscrição "never trust a zombie", ui! O polícia mais velho, que era de uma dessas igrejas ou seitas ou lá o que são aquelas casas onde se canta e batem palmas ao Criador e se Lhe dão umas gorjetas, o polícia mais velho ficou logo com vontade de lhe enfiar uma esquecida nas trombas mas conteve-se.
Quando falou mostrou uma boca com espaços vagos na dentadura. A cara era como se lhe tivessem esfaqueado a carne e os ossos. Alguém lhe tatuou qualquer coisa na testa, qualquer coisa no maxilar, mas foram tentativas falhadas e se já era feioso mais horrível ficou. O cabelo rapado indiciava algo semelhante a tinha. Enfim, pior aspecto? Talvez houvesse por aí alguém com pior aspecto mas não seria fácil de encontrar.
Diz o povo que "quem vê caras não vê corações" e, neste caso, o dito fazia todo o sentido. O tipo era um autêntico santo. Bom, correcto para com os seus semelhantes, amigo dos animais, um anjo! Isso não impediu que sucumbisse aos maus tratos que desconhecidos lhe infligiram, presumivelmente, à porta da esquadra onde foi encontrado por dois transeuntes a esvair-se em sangue. Paz à sua alma.
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