Sentia-se submergido pela sua própria experiência de vida. Momentos havia em que quase chegava a perceber fazer parte de algo maior do que o seu quotidiano, momentos em que quase acreditava haver um sentido para a sua vida; chegou mesmo a quase acreditar em Deus. Nestes momentos, tão mágicos quanto fugazes, o corpo descontraía e a respiração ficava regular. O mundo batia em uníssono com o seu coração.
Mas a vida não se comove com a insignificância de quem somos. Sentia-se deprimido 23 horas e 55 minutos por dia, todos os dias. Sim, mesmo quando dormia, era visitado por pesadelos horrendos. Dizer que se tratava de um homem deprimido seria dizer muito pouco. Era um homem desfeito, um detrito, um indigente social: era, segundo palavras suas ditas defronte ao espelho "uma merda de merda". Poderoso.
Fosse como fosse, vivia para aqueles 5 minutinhos quotidianos de quase felicidade a que tinha direito. Poderiam surgir logo ao acordar, lá mais para o meio da manhã, perto da hora do almoço, ao fim da tarde, na hora da caminha; podiam viver-se todos de uma vez ou distribuídos em pequenas parcelas ao longo do dia recortando figurinhas alegres no tecido da angústia permanente. Não fossem aqueles doces minutos e já teria enfiado um tiro na cabeça ou bebido um copázio de veneno para a rataria.
5 minutos de vaga felicidade vividos cada dia provavam-lhe que a vida não tem de ser apenas sofrimento.
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