O surto de legionella ou a já esquecida ameaça apocalíptica do ébola vão produzindo efeitos mirabolantes dentro de certas cabeças. Imagino que dentro de muitas, muito mais que 100 cabeças.
Pessoas que não lêem jornais, que ouvem o noticiário televisivo com ouvidos de burro ou se limitam a recolher informação vinda da boca do vizinho, criam imagens incríveis dentro da cabeça e não hesitam em dispará-las cá para fora com uma violência e um alarmismo dignos de prémio internacional. É inquietante.
Colocadas perante a evidência de que a sua opinião é uma coisa estúpida e sem fundamento essas pessoas, em vez de ficarem descansadas e aliviadas, tornam-se teimosas, quase agressivas: que ouviram, que lhes disseram, que vai morrer uma cambada de gente, que a coisa é gravíssima. Em última análise vamos todos morrer, eu, ele, ela, os nossos filhos, os nossos pais, os nossos amigos. Só ficam para semente aqueles de quem não gostamos e os nossos piores inimigos.
Fico descoroçoado. Não consigo acreditar. É como se a ignorância produzisse dentro de nós um indomável desejo de que as coisas corram mal, uma espécie de estranho ódio ao mundo e a nós próprios.
Todos os dias tento combater a ignorância mas raramente tenho a certeza de estar a ganhar a luta.
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