quinta-feira, novembro 27, 2014

Dúvida existencial

Hoje vi uma mulher que levava um puto pequeno sentado num carrinho de compras e falava muito alto com outra mulher que a acompanhava. Não dei atenção ao que dizia, falava de qualquer coisa banal, não me lembro. Registei apenas o tom de voz e a aparência desorbitada da senhora, um certo ar de louca com um sorriso estampado no rosto.

O puto conduzia as operações. Quando a senhora ia virando o carrinho para a direita, travou subitamente e voltou com brusquidão à esquerda, alardeando o facto de ter sido o pequenote a orientá-la. A senhora não ria, não mostrava qualquer expressão particular que pudesse desvelar-lhe o estado de espírito. Mantinha, apenas, aquele sorriso estampado no rosto como se fosse resultado de alguma cirurgia plástica e ela vá sorrir assim para todo o sempre. E falava alto (talvez exagerasse se dissesse que a senhora berrava).

Mais tarde, quando seguia ao volante do meu carro, dei por mim a olhar um sinal vermelho e a pensar que aquela senhora tinha fortes probabilidades de ser aquilo a que chamamos maluca. Se assim fosse (a senhora maluca) e o puto filho dela...será a maluquice hereditária? Quero dizer, uma criança nasce maluca ou fica maluca pela convivência e contacto directo com malucos encartados?

Seja como for, o que me confortou nesta situação e me levou a registá-la aqui, foi ter pensado como é estranhamente bela a loucura e como lhe reconhecemos o direito à vida. O que seria deste mundo sem os biliões de malucos que nele habitam?

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