Notas introdutórias à minha intervenção na conversa/debate "O ponto não está à janela" a realizar no próximo dia 16 deste mês e deste ano
Vou basear o meu discurso em algumas coisas nas quais
acredito mas que não tenho como provar. Serão ideias discutíveis e talvez, por
isso mesmo, possamos trocar umas ideias sobre o assunto.
Vou partir do princípio de que toda a representação
simbólica do mundo que nos rodeia tem, na sua génese, um impulso mágico que é,
como quem diz, um impulso poético.
Estou convencido que o impulso que origina o discurso
poético é diverso do que origina o pensamento científico, embora
possam existir momentos em que estes discursos, aparentemente antagónicos, se
aproximam e se completam.
Afinal de contas, poesia e ciência, magia e matemática, teatro
e astrofísica, são formas de representação do mundo, tentativas de nos
aproximar um pouco mais dos mistérios da existência humana. Mistérios esses
que, no limite, podem nem sequer existir (ou podem ser representados como na
simbologia de Almada Negreiros, 1+1=1).
Acredito que a criação da representação simbólica é muito
semelhante às brincadeiras de criança, quando sentimos o impulso incontrolável
de tentamos encontrar uma narrativa que faça sentido e a moldamos de acordo com
os nossos anseios.
Os adultos informam-nos de que existe uma grande distância
entre “real” e “imaginário” e que a “realidade” tem um valor muito superior ao “faz-de-contas”
mas não nos convencem. Só deixamos de acreditar no mundo que inventamos quando
entramos definitivamente no universo dos adultos e corremos o risco de nos
perdermos para sempre.
Quando somos crianças imaginamos a vida como um teatro
contínuo. E é assim que eu imagino o teatro: a representação incessante da
infância inultrapassável e infinita que é a principal e única característica do
Ser Humano.
(claro que continua!)