Ser professor tem que se lhe diga. Deixando para um plano secundário todas as questões relacionadas com as condições de trabalho, com a remuneração ou a proletarização da classe, deixando tudo isso na gaveta, há um pormenor que me incomoda.
O pormenor incómodo é que não tenho bem o direito de aterrorizar os meus jovens alunos com as minhas visões do futuro. Nem eu queria estar a criar-lhes macaquinhos no sótão, quanto mais alimentá-los! Mas essa auto-censura deixa-me frequentemente à beira de uma tristeza silenciosa.
Mais, sendo eu professor sinto que faz parte do meu trabalho incentivar e motivar a criançada. Assim farei durante os próximos anos. Tento não mentir mas omito muita coisa que me passa pelo espírito. É uma situação complicada para quem, como eu, foi educado num ambiente católico onde a mentira é castigada com algum diabo de terceira categoria a dar-nos umas marretadas por toda a eternidade.
Dentro de alguns anos irei reformar-me. Terei então todo o tempo do mundo para me enxofrar com a macacaria que me arrebenta o juízo.
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