domingo, agosto 21, 2022

Fanatismos

     O ataque a Salman Rushdie veio recordar-nos os contornos obscuros de ódios irracionais que tínhamos de algum modo esquecido. A violência perpetrada em nome de Deus nunca desaparece, adormece por períodos de tempo mais ou menos longos para irromper subitamente em todo o seu terrível esplendor. O fanatismo religioso é um cancro que corrói a Humanidade. 

       Ficamos chocados com a irracionalidade dos fanáticos do Islão mas, temo bem, eles não estão sós. A República Islâmica do Irão é um anacronismo. Não há discurso dos seus líderes sem que a vontade de Deus seja invocada. Mas, ouvindo os presidentes dos Estados Unidos da América, inimigos figadais dos iranianos, verificamos que também eles cometem o pecado de invocar em vão o nome de Deus. Os americanos chegam mesmo a inscrever a sua subserviência nas notas dólar numa proverbial confusão entre a natureza de diferentes divindades . E como classificar o discurso de Jair Bolsonaro? O fanatismo e os perigos que com ele crescem não são exclusivos dos adoradores de Alá, longe disso.

      Na Europa levámos séculos a separar Deus e o Estado, séculos a cicatrizar as feridas profundas que as guerras religiosas cavaram na nossa sociedade. Agora assistimos com maior ou menor perplexidade ao ressurgimento de movimentos sociais retrógrados apoiados em discursos religiosos que pretendem impor indiscriminadamente uma ordem supostamente desejada por Deus. 

       Este monoteísmo soa a politeísmo, tão vincadas são as diferenças dos adoradores de um e outro deus e se alguma coisa coisa prova a grandeza de Alá é o facto de Salman Rushdie ter sobrevivido ao seu assassino.

Sem comentários: