quarta-feira, agosto 03, 2022

A Democracia como empecilho


    Há muito que se fala em pós-democracia, mas o conceito não tem sido muito discutido nem tão difundido quanto seria desejável. Muitos são os que consideram que vivemos em pleno um regime pós-democrático; elegemos os nossos representantes que se ocupam do funcionamento das instituições e vão tomando decisões que permitem ir equilibrando o nosso quotidiano, mas as grandes decisões económicas são tomadas nos ambientes controlados dos conselhos de administração de meia dúzia de grandes empresas. Estas multinacionais formam uma espécie de Comité Central da Internacional Capitalista (IC) e são os seus patrões quem decide o modo como vivemos e como morremos, tendo como único objectivo a satisfação dos interesses dos seus principais accionistas. Os seus negócios são transversais, do armamento aos cereais, dos combustíveis fósseis aos verdes, onde houver dinheiro a ganhar há um comissário da IC a fazer com que a coisa flua.

    Isto pode soar a teoria da conspiração, mas não consigo evitar a sensação de estar a IC promovendo o desmantelamento da Democracia, peça por peça. A coisa está já em avançado estado de degradação nos EUA, no Brasil o ambiente não parece muito melhor, a ascensão nazifascista por toda a Europa é preocupante. Para gáudio da IC as grandes potências em ascensão têm regimes abstrusos: na China uma espécie de capitalismo de estado, na Índia um impossível democracia nacionalista hindu. Populações inteiras com direitos socio laborais mitigados ou mesmo inexistentes são o sonho húmido dos dirigentes da IC, o futuro da Humanidade.

    Assistimos ao declínio final do “século das luzes” após a derrocada dos impérios coloniais. A África terá de continuar à espera da sua hora, quem sabe daqui a mil anos…? Putin terá também direito a constar numa página da História, talvez numa nota de rodapé, lado a lado com Zelensky: os dois Vladimiros siameses que, cada um à sua maneira, deram a machadada final na União Europeia. Eu sei que tudo isto soa a teoria da conspiração, mas não consigo libertar-me da incómoda sensação de que a Democracia se tornou um autêntico empecilho.

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