segunda-feira, novembro 28, 2011

Tudo isto é triste, tudo isto é fado!


"Decisão aprovada: O fado já é património mundial." e pronto, está feito. Muita emoção e comoção e lágrimas e violas a trinar pelas vielas, o fado é património imaterial da humanidade. 

Cá pra mim, que não sou tido nem achado nestas coisas de grandiosidade à escala planetária, o fado não precisava deste carimbo na testa nem de credencial assinada para fazer parte do património imaterial mundial, pela simples razão que já dele fazia parte, fosse ou não reconhecido pela UNESCO. A coisa deu-se em Bali, na Indonésia (ler aqui). 

Também da Indonésia nos chega a notícia de que, no espaço de uma ano e meio, foram mortos cerca de 750 orangotangos na ilha de Bornéu (ler aqui). Consta que as motivações dos assassinos destes grandes primatas são a protecção de culturas mas também o consumo de carne. Em situações como esta penso se não me daria melhor com o mundo que me rodeia se fosse vegetariano. Comer um orangotango é quase canibalismo...

Por um lado podemos aliviar um pouco da tristeza que nos tem assaltado: o fado é património mundial com atestado carimbado e assinado por quem decide estas coisas, num sempre apetecível reconhecimento burocrático que só faz falta a quem não acredita em si próprio.

Por outro lado as nuvens carregam-se de cinzento, pois ao orangotango, que é um ser material, não bastam nem servem para nada todos os carimbos que têm sido postos em decretos e planos que visam a sua protecção, numa prova de que a burocracia global só é eficaz em questões de imaterialidades.

Como diz a canção: "Tudo isto é triste, tudo isto é fado!" vertamos umas lágrimas grossas e quentes, é caso disso.




3 comentários:

Li Ferreira Nhan disse...

Mesmo neta de portugueses pouco conheço do fado. Meus avós não eram dados, nem tinham tempo para a música (de nenhum tipo).
Há pouco tempo ouvi alguns que gostei muito, e já agora estou a ouvir, conhecer. De fato ele toca a alma, dá uma saudade nem sei do que.

Fiquei muito feliz com o prêmio, mas esses títulos dados aos costumes, as construções, cidades, florestas, enfim, fora o reconhecimento, divulgação, e conhecimento global,
em termos concretos qual o benefício?
Há alguma norma de proteção ou ajuda? Não sei nada disso.
Ou melhor, só sei desses prêmios por aqui, como de hábito, se faz muita festa, fala-se muito mas depois ninguém respeita mais nada do patrimônio reconhecido.
E se há algum prêmio($) vai para o bolso do alheio com certeza.
Mas estou a falar de Brasil.

Da Indonésia procuro não saber.
Me entristece, me revolta quase tudo que vem de lá.
Essa notícia não sabia.
Soube agora, aqui.
Deliberadamente não vejo, não consigo olhar nada a respeito do horror praticado aos animais.
Não possuo estrutura psicológica, nem força, nem estomago pra isso.
É infinitamente mais forte do que eu posso tolerar.

Não consigo escrever o que senti ao ler s/ os orangotangos.
Só estou chorando.

Silvares disse...

Li, os orangotangos são como gente. São gente diferente.

Jorge Pinheiro disse...

Um fado negro.