segunda-feira, novembro 07, 2011

Uma dúvida

Quando se derruba um tirano? Será quando se lhe atiram as estátuas por terra ou quando os últimos mercenários desaparecem de cena? Talvez o tirano permaneça muito para lá da destruição das suas imagens. Só o tempo pode dizê-lo mas, no caso que melhor conheço, o tirano fica impregnado no quotidiano do povo por muitos anos. Um tirano nunca desaparece por completo. Um tirano é prova absoluta da extraordinária validade da Lei de Lavoisier se partirmos do princípio que é coisa digna de ser considerada como parte da natureza.

4 comentários:

the dear Zé disse...

é uma halitose que as partilhas de menta não apaga.
naftalina entranhada nas roupas de inverno, como um melanoma, que as velhas usam até no verão.
a mancha de bolor no canto daquele quarto que a gente pinta todos os anos e não sai, por mais que se esfregue e raspe, não sai...

rui sousa disse...

Eu sou mais implacável nessa questão. É muito difícil ver desaparecer um tirano pela simples razão de que o tirano está dentro de nós. Há coisas (boas e más) que nós não conhecemos de nós próprios porque nunca fomos postos à prova. O homem é sempre ele e as circunstâncias. Eu sei que isto é uma frase feita mas é o que penso ser a verdade. Há um ditado que diz que as coisas mais importantes da nossa vida, aquelas que verdadeiramente nos marcam e decidem o nosso futuro, não dependem de nós. E eu acredito cada vez mais nisso. Um tirano pode ser qualquer um de nós e isso assusta-nos de tal maneira que na primeira ocasião que tivermos para perseguir as bruxas não iremos hesitar. Enquanto o mundo estiver entretido a apontar o dedo a alguém, nós não perderemos tempo a olhar para nós próprios. É mais fácil, mais confortável e cria-nos a ilusão da consciência limpa.

Jorge Pinheiro disse...

Somos tudo isso e muito mais.

Silvares disse...

Dear Zé, acho que tens aí qualquer coisa.

Rui, as marcas são profundas e dificeis de compreender.

Jorge, o "muito mais" assusta um pouco.