Há um ruído contínuo. Umas vezes lá ao fundo, outras vezes cabeça dentro; é como uma matraca mas uma matraca por vezes a bater em superfície acolchoada. O silêncio, nas cidades, tornou-se um bem, é produto de luxo ao alcance apenas de uma minoria. Ainda assim é preciso desejá-lo.
O ruído de fundo ininterrupto molda as pessoas. Se, porventura, esse ruído sofre interrupção, logo sobrevém a incómoda sensação de desconforto provocada pela impressão de alguma ameaça eminente. Silêncio implica catástrofe. É como quando as aves desaparecem do céu e se adivinha a proximidade da borrasca.
Viver na cidade exige a aceitação do ruído constante. O ruído faz parte do pacote, nem sequer se coloca a possibilidade de ser recusado. Viver na cidade é aceitar o ruído.
A pessoas como eu, que viveram a infância em ambiente rural e que têm, esporadicamente, a possibilidade de regressar a esse espaço mítico de paisagens verdejantes e montanhas azuladas pela distância; a imposição grandiloquente de um ruído benfazejo não constitui sedução suficiente ao ponto de evitar uma certa náusea, uma certa vertigem, uma quase rejeição muscular.
Por vezes dou por mim a reparar na barulheira, lá por detrás do cérebro e penso: em que pensava eu ainda agora? Lembro-me de uma frase que escrevi num "diário gráfico" dos meus primeiros tempos de estudante, quando troquei a pasmaceira dos espaços que habitei durante a minha infância e adolescência pela Babilónia incansável que é a Grande Cidade; escrevi então "traz-me todo o silêncio que encontrares e pendura-o nessa parede".
Só agora, quase 40 anos volvidos, compreendo o que quis dizer então, só agora alcanço o valor do silêncio.
O ruído de fundo ininterrupto molda as pessoas. Se, porventura, esse ruído sofre interrupção, logo sobrevém a incómoda sensação de desconforto provocada pela impressão de alguma ameaça eminente. Silêncio implica catástrofe. É como quando as aves desaparecem do céu e se adivinha a proximidade da borrasca.
Viver na cidade exige a aceitação do ruído constante. O ruído faz parte do pacote, nem sequer se coloca a possibilidade de ser recusado. Viver na cidade é aceitar o ruído.
A pessoas como eu, que viveram a infância em ambiente rural e que têm, esporadicamente, a possibilidade de regressar a esse espaço mítico de paisagens verdejantes e montanhas azuladas pela distância; a imposição grandiloquente de um ruído benfazejo não constitui sedução suficiente ao ponto de evitar uma certa náusea, uma certa vertigem, uma quase rejeição muscular.
Por vezes dou por mim a reparar na barulheira, lá por detrás do cérebro e penso: em que pensava eu ainda agora? Lembro-me de uma frase que escrevi num "diário gráfico" dos meus primeiros tempos de estudante, quando troquei a pasmaceira dos espaços que habitei durante a minha infância e adolescência pela Babilónia incansável que é a Grande Cidade; escrevi então "traz-me todo o silêncio que encontrares e pendura-o nessa parede".
Só agora, quase 40 anos volvidos, compreendo o que quis dizer então, só agora alcanço o valor do silêncio.
2 comentários:
Também ando dando valor a ele.
O silêncio é um valor meio esquecido.
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