É o presidente Trump um retrato do mundo actual? É ele o espelho mágico
no qual nos olhamos e a quem perguntamos se há alguém mais democrata do que
nós? Nós… nós… mas quem somos nós, aqueles por quem o Senhor Director fala no
seu editorial de 10 de Novembro, “Este território desconhecido”? Somos os que
estão surpreendidos com a vitória do Donald? Os que vivem preocupados com os movimentos
populistas de pendor totalitário que medram um pouco por toda a União Europeia? O que nos une, o que nos torna um todo?
Tal como nos comics
americanos, por cada super-herói há um super-vilão. Se “nós” existimos “eles”
também estão por aí e, de momento, são “eles” quem está a ganhar. Temo que o
problema resida precisamente na possibilidade que “nós” não existamos, que “nós”
sejamos uma personagem ficcional e “eles”, pelo contrário, sejam reais. Temo
que “eles” saibam o que (não) querem enquanto “nós” queremos coisas diferentes
uns dos outros. “Eles” têm inimigos definidos e unem-se, “nós” não temos como
nos unir pois não identificámos ainda o inimigo, estamos divididos. “Nós” acreditávamos que personagens
como Trump, Farage e Le Pen só poderiam crescer noutro tipo de contexto sociopolítico.
Erro crasso, percebemos agora. Seremos,"nós" e "eles", a mesma coisa, a mesma gente?
Olhando para os resultados das duas votações (a do
Brexit e a eleição do Donald) que obrigam
a reflectir sobre que mundo é este, verificamos que uma e outra foram
razoavelmente renhidas, que há uma tendência clara para uma divisão em duas
partes que se equivalem. Estará o Ocidente a partir-se ao meio, a abrir uma
brecha através da qual se esvaziará irrevogavelmente?
Se Trump for o tal espelho mágico decerto não tardará a dar-nos respostas.
Carta enviada ao Director do jornal Público
2 comentários:
Muito boa reflexão. O futuro próximo nos dirá.
O povo quer, o povo tem. A Democracia tem funcionado assim.
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