quinta-feira, novembro 10, 2016

Perguntas, perguntas…


É o presidente Trump um retrato do mundo actual? É ele o espelho mágico no qual nos olhamos e a quem perguntamos se há alguém mais democrata do que nós? Nós… nós… mas quem somos nós, aqueles por quem o Senhor Director fala no seu editorial de 10 de Novembro, “Este território desconhecido”? Somos os que estão surpreendidos com a vitória do Donald? Os que vivem preocupados com os movimentos populistas de pendor totalitário que medram um pouco por toda a União Europeia? O que nos une, o que nos torna um todo?

Tal como nos comics americanos, por cada super-herói há um super-vilão. Se “nós” existimos “eles” também estão por aí e, de momento, são “eles” quem está a ganhar. Temo que o problema resida precisamente na possibilidade que “nós” não existamos, que “nós” sejamos uma personagem ficcional e “eles”, pelo contrário, sejam reais. Temo que “eles” saibam o que (não) querem enquanto “nós” queremos coisas diferentes uns dos outros. “Eles” têm inimigos definidos e unem-se, “nós” não temos como nos unir pois não identificámos ainda o inimigo, estamos divididos. “Nós” acreditávamos que personagens como Trump, Farage e Le Pen só poderiam crescer noutro tipo de contexto sociopolítico. Erro crasso, percebemos agora. Seremos,"nós" e "eles", a mesma coisa, a mesma gente?

Olhando para os resultados das duas votações (a do Brexit e a eleição do Donald) que obrigam a reflectir sobre que mundo é este, verificamos que uma e outra foram razoavelmente renhidas, que há uma tendência clara para uma divisão em duas partes que se equivalem. Estará o Ocidente a partir-se ao meio, a abrir uma brecha através da qual se esvaziará irrevogavelmente?
Se Trump for o tal espelho mágico decerto não tardará a dar-nos respostas.

Carta enviada ao Director do jornal Público

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito boa reflexão. O futuro próximo nos dirá.

Silvares disse...

O povo quer, o povo tem. A Democracia tem funcionado assim.