sexta-feira, outubro 14, 2016

Viva a arte!


O prémio Nobel da literatura para Bob Dylan pôs o pessoal a botar a boca no trombone e a barulheira é uma confusão. Que sim, que não, um ou outro que talvez. As opiniões, como dizia Herman José, são como as vaginas: cada um tem a sua.

Neste caso não vou mostrar a minha.

Escrevo este texto porque a discussão fez-me lembrar uma questão que muito me embaraçou quando era aluno de belas-artes. Um belo dia, mais belo que a minha arte, o professor de desenho disse-me, assim, sem aviso, que aquilo que eu lhe mostrava para avaliação das minhas capacidades não era desenho.

Gelei.

Se não era desenho o que era aquilo afinal? Pior, onde acabava o desenho e começava aquilo ou, pior ainda, onde acabava aquilo e começava o desenho? Jovem que era, fiquei confuso e levei porrada de criar bicho, não tinha argumentos nem sequer era admitida discussão. O professor é que sabia, ponto muito final.

Ainda hoje, várias décadas volvidas, penso naquela situação e continuo sem perceber muito bem quais são os limites do desenho. Onde fica a fronteira que circunda a sabedoria da arte?

Muitos dos que desatinam com o prémio atribuído a Dylan vertem algum fel afirmando que ele não faz literatura e desprezam a Academia Sueca por ter ousado misturar belos alhos com esbodegados bugalhos. Lá terão as suas vaginas. Pessoalmente, confesso, estou-me bem a cagar.

Viva a arte!

4 comentários:

Lais Castro disse...

Olá, seria muito atrevimento lhe sugerir que repensasse esse fundo preto do seu blogue? E com letras de cor laranja, então, dificultam muito a leitura, tudo cansa a vista! Você escreve sobre temas que me interessam, sobretudo cinema, gosto do seu estilo de escrita... mas nesse fundo preto, não dá para lhe visitar com frequência.
Muito obrigada e perdoe-me se fui inconveniente.
Lais.

Silvares disse...

Não foi inconveniente, de modo nenhum.
O fundo preto é mania minha (e preguiça).
Vou pensar em mudar o aspecto do blogue.
Grato pelo seu interesse.
Até breve.

Jorge Pinheiro disse...

Acho fantástico a ideia de se passar a considerar letrista poetas passíveis de nobel. Escolheria Paul Simon, mas aceito Dylan como mais simbólico,representativo e universal. Pessoalmente embirro com o homem, não gosto dele a cantar, não gosto da gaita de beiços nem gosto dele a tocar. Ou seja, acho que a mensagem está mal embrulhada e, no entanto foi esse péssimo embrulho que lhe deu a fama.

Silvares disse...

Terás de concordar que a reacção dele ao anúncio do prémio tem o seu quê de interessante.
Pessoalmente também nunca fui grande admirador do dito cujo. Prefiro Leonard Cohen, por exemplo. Mas isso é um pormenor que nem é para aqui chamado.