quarta-feira, outubro 26, 2016

Antes pelo contrário



Alemães, austríacos, belgas (valões e flamengos), búlgaros, cipriotas, croatas, dinamarqueses, eslovacos, eslovenos, estónios, espanhóis, finlandeses, franceses, gregos, húngaros, irlandeses, italianos, letões, lituanos, luxemburgueses, malteses, holandeses, polacos, portugueses (minhotos, beirões, ribatejanos, alentejanos e algarvios), ingleses (de malas aviadas), escoceses e irlandeses do norte (a hesitarem no aviamento das respectivas malas), checos, romenos e suecos. Tantos povos, tanta gente, uma só União, a Europeia. 

A pergunta que me dança na caverna craniana é: o que une esta União? É a Cultura? A religião? É uma ideologia política? Algum Herói, algum sonho, um ideal que seja? Não. Não me parece que haja outra coisa em comum além da deusa Economia. 

Mas, tal como o Cristianismo tem diferentes interpretações que se materializam em Igrejas particulares que apontam diferentes caminhos para a redenção das almas, também a Economia divinizada suscita debates acalorados e diferentes vias para a redenção dos orçamentos dos estados. A confusão instala-se, a coesão é uma espécie de batata que obedece a múltiplas lógicas voláteis. Pautar a construção europeia por princípios económicos equivale a desfazê-la em pedacinhos peçonhentos. 

A Economia é uma divindade prostituta, pode proporcionar prazeres momentâneos, êxtases magníficos mas, no fim do dia, exige o pagamento devido sem oferecer qualquer tipo de afecto ao pagador. 

Somos um cadáver andante, um zombie sociopolítico, uma coisa votada ao esquecimento. Sem solidariedade esta coisa de que fazemos parte não faz sentido. Sem cultura Democrática somos uma bosta. E, como bosta que somos, havemos de ir esgoto abaixo e, connosco, toda a magnífica utopia social-democrata será despejada no Mar Mediterrâneo. 

Sinto algum pesar por fazer parte deste epílogo histórico mas, por outro lado, não me pesa o coração. A tristeza que me assalta é fruto de não conseguir cumprir aquele que acredito ser o sentido da vida: deixar para as gerações futuras um mundo melhor do que aquele que encontrámos. Antes pelo contrário.

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