segunda-feira, maio 09, 2016

Vison

Um homem de cabeça branca passeia no palco com uma gola circular, reflectora, gola que lhe dá uma volta completa ao pescoço. A luz cai sobre a gola num gracioso ângulo de, mais ou menos, não sei  quantos graus e faz com que o homem, vestido de negro, se transforme numa cabeça planante (como a do Rei da Lua nas Aventuras do Barão Munchausen).

O homem sorri, arreganha os brancos lábios. Tem os dentes vermelhos. Acho que esteve a comer tomate. Molho de tomate. A beber sumo de tomate. O tomate é um estranho fruto.

Depois há aquele malabarista vestido com um fato de escamas de peixe que salta como um sapo ou como um coelho (não parece nada um canguru a saltar), que salta por ali e por acolá, que dá pinotes e pinotes, atirando objectos ao ar: um guarda-chuva, um telemóvel esperto, um tijolo cor de laranja e um ursinho de peluche ao qual está quase, quase, a saltar um dos olhos (que já é um botão de gabardina há bastante tempo).

Olha, agora é uma ave transparente que entra em cena. Tem rodinhas no lugar dos pés e rola sobre o palco com suavidade. A ave comeu uma rosa vermelha ao pequeno almoço, vê-se bem que foi isso o que comeu.

Mais atrás um casal flutua sobre o negrume do palco, equilibrando-se num esquife de metal. Uma das figuras encontra-se protegida por um pano azul que a cobre da cabeça aos pés (presumindo que tenha cabeça e que tenha pés).

Finalmente, um cavalo cujo corpo já é mais uma armadura que aquilo que deveria ser o corpo de um cavalo, passa em primeiro plano com um corneteiro incrustado no lombo, como um artilheiro enfiado na tampa aberta de um carro de combate.

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