As reacções descabeladas dos muçulmanos mais
radicais perante a publicação de uma nova caricatura de Maomé na capa do
Charlie Hebdo mostram que não há qualquer possibilidade de entendimento entre o
nosso mundo e o deles, que vivemos em mundos distintos, que não há, nem de um
lado nem do outro, a mínima intenção de encontrar uma plataforma comum de
convivência. Parece absolutamente impossível explicar aos radicais islâmicos
que uma coisa é o Estado, outra coisa é a Religião, que as pessoas são
diferentes de Deus. Nunca compreenderão a frase de Jesus “dai a César o que é
de César e a Deus o que é de Deus”, nem nós seremos capazes de compreender a
inevitabilidade da submissão da vontade humana aos desígnios de Deus. Azeite e
água misturam-se melhor?
Levámos séculos até conseguirmos separar Deus e
Estado, até alcançarmos a liberdade religiosa proclamando a tolerância como
valor universal. Está bem abelha, vai contar essa aos radicais islâmicos ou aos
grupelhos de extremistas xenófobos e racistas que pululam por aí. Para gente
desta qualquer pretexto é bom para matar, estropiar, destruir, intimidar; a
violência parece ser parte essencial da mensagem divina ou finalidade última da
actividade cívica. Assassinar em nome de Deus não é considerado blasfémia,
matar outro Ser Humano não é considerado crime. Blasfémia é desenhar
caricaturas de uma certa personagem histórica, crime é ser estrangeiro, ser
diferente. Este mundo é lixado! Vá-se lá desvendar-lhe um sentido.
Os líderes muçulmanos radicais vêm uma vez mais ameaçar
de morte, guerra e destruição indiscriminada o espaço ocidental; isto na maior
das calmas: voz pausada, olhar seráfico, pose flutuante, como se tivessem
conferenciado com o Profeta há coisa de cinco minutos e este lhes tenha
transmitido ordens directas do Big Boss.
Sentem-se ofendidos com um punhado de desenhos e umas bocas foleiras. Tretas. Eles
querem é um pretexto para justificar as suas acções terroristas, os seus
impulsos criminosos e a sua agenda política, tal como do lado de cá uns certos
hipócritas justificaram ataques assassinos em território muçulmano com a
existência de armas de destruição maciça que afinal eram refinada mentira. É tudo
farinha do mesmo saco. De um lado e do outro os líderes mais agressivos e sem
escrúpulos conseguem arrebanhar exércitos, semear a discórdia e fazer a guerra
com uma facilidade assustadora. A guerra será lucrativa para alguém, decerto
para uns e outros, caso contrário haviam de se esforçar por viver em paz.
Acredito que a maioria das pessoas do outro lado
sejam pessoas como eu. Acredito que tenham as suas convicções, que tenham os
seus ódios e as suas fidelidades absolutas, que tomem um lado da barricada em
caso de guerra mas que, acima de tudo, querem é viver em paz, ver os filhos
crescer e pensar na vida como ela é, não na vida como nos querem convencer que
devia ser.
2 comentários:
É claro que não há forma de entendimento entre radicais e é utópico pensar que alguma vez será possível. Por isso, a bola do mundo vai continuar a rodar, independentemente das rabujices fundamentalistas.
A rabujice não é um exclusivo dos fundamentalistas...
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