Vem isto a propósito das palavras do 1º ministro português que elogia a "extrema paciência dos portugueses" perante o apagamento inexorável do sonho de virmos a ser um país com um nível de vida razoável. Méééé, eu também faço parte deste imenso rebanho que nós somos.
Na verdade sempre me imaginei um gajo paciente. Não digo paciente ao estilo de um Job, porra, também não vale a pena exagerar, mas paciente, sim. Pelo menos um bocadinho paciente, mesmo apesar de ser capaz de perder as estribeiras com alguma ligeireza.
Pronto, está bem, se calhar não sou assim tão paciente como me imagino. Isto de estar dentro de mim próprio retira-me algum distanciamento e tolhe-me o espírito crítico. Mas numa coisa o nosso 1º tem razão: ser português requer muita paciência.
Paciência, principalmente, para aturar os restantes 10 milhões de portugueses sem acabar a trilhar uma carreira de assassino em série.
Estou em crer que a dita paciênciazinha tenha a ver com a educação católica. Um gajo é levado a encarar o Purgatório como um lugar aceitável; sempre é melhor que o Inferno e sabemos bem que o Paraíso não está ao nosso alcance.
Ok, segundo o nosso imortal Camilo somos, então, riquíssimos, precisamente por sermos tão infelizes.
Alguém disse, uma turista intelectual (não sei quem, lembro-me que era uma mulher), disse a turista que "os portugueses são os latinos tristes". É bonito, tem aquele toque de agradável melancolia. Ficamos logo com carinha de cãozinho abandonado.
Imagino que a senhora tenha entrado no nosso jardinzinho vinda de Espanha onde nuestros hermanos levam o mundo todo à frente à força de olés e muito salero. São os maiores e fazem muito mais barulho do que nós o que é um feito, sem dúvida, extraordinário!
Agora que a crise que tudo enche de merda, está a bater também à porta dos nossos vizinhos, a coisa começa a aquecer. É que eles, em termos de paciência, são uns pobretanas, quase miseráveis! Têm a mania de sair para a rua a gritar como bezerros desmamados, reclamando por tudo e por nada.
Os espanhóis têm o rei, não na barriga, têm o rei nos tomates ou lá o que é! São uns convencidos do caraças mas até gosto deles. São engraçados, mexem-se muito e falam pelos cotovelos. E as espanholas são umas mulheres do caraças. Pelo menos as poucas que conheci eram umas mulheres do caraças. Acho eu.
Se lhes aplicarem a mesma receita que nos estão a enfiar pela goela abaixo, diminuição de salários, aumento supersónico do desemprego, desinvestimento no estado social, e etc. e tal, como irão eles reagir? É que, se nós somos cordeiros, eles são lobos. Dos maus.
Fico curioso e aguardo. Visto daqui, o desabamento da Europa enquanto utopia e farol da humanidade, é uma coisa assim a dar para o mole. E visto dali, como será?
Vou encher o copo outra vez. Hoje é sexta-feira e amanhã não trabalho. Por enquanto ainda guardamos os sábados e os domingos. É aproveitar enquanto é tempo.
A Península Ibérica ainda está agarrada ao resto do continente mas o que me custa, mesmo, é ser governado por esta gentalha que diz que me governa.
E se a gente, o povinho, descolasse desta merda e fossemos mas é para África que é o que nós somos de verdade; africanos!?
Post scriptum: enquanto andava por aqui a passear a propósito deste escrito deparei com a frase que se segue: "Talvez haja apenas um pecado capital: a impaciência.
Devido à impaciência, fomos expulsos do Paraíso; devido à impaciência,
não podemos voltar." Vê-se logo que isto não foi escrito por um português. É uma frase atribuída a Kafka que, como toda a gente sabe, era um tipo que não interessava, nem ao Menino Jesus!!
2 comentários:
pacientemente digo ao senhor 1º ministro que vá para a puta da tróica que pariu o seu governo de merda mais os cabrões dos eleitores que votaram neles e o traio que os parta a todos que estou a tentar ser comedido...
Zé, ainda bem que és um gajo contido!
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