De facto, um inimigo declarado e claramente identificado ajuda-nos a apontar as nossas armas numa direcção determinada, ajuda-nos a ter um objectivo. A ausência de um inimigo pode deixar-nos desamparados de ódio, o que não é coisa boa para a nossa saúde.
Necessitamos de ter ódio que nos equilibre a destilação de amor. Uma coisa ampara a outra, é o Yin e o Yang, o equilibrio universal a repousar na mesinha de cabeceira como se fosse um bibelot.
Após o pequeno-almoço e uma olhadela ao jornal dei por mim a pensar que a derrota do comunismo foi o que nos lixou. Quando o Muro de Berlim caíu estávamos longe de imaginar a merda toda que estava para nos entrar porta dentro.
Sem a Cortina de Ferro ficámos à mercê dos nossos próprios demónios. Enterrada a utopia comunista sob toneladas de realidades abjectas, agora confirmadas (a vida do lado de lá era ainda pior e mais desumana do que nós imaginavamos), pensámos que a Social Democracia havia triunfado!
Ao som de trombetas triunfais sonhámos com uma Europa democrática e justa. Abafado o papão comunista teríamos apenas de esperar o tempo necessário para a estabilização social e política do nosso amado Velho Continente. O Paraíso anunciava-se pintado em tons rosa e azul bebé.
Hoje, ao acordar, percebi que sem comunistas estamos entregues ao monstro capitalista sem ninguém que nos proteja. A miséria dos povos subjugados sob as desprezíeveis bandeiras vermelhas estancava a voracidade do mostrengo que agora nos devora a todos, ex-comunistas incluídos, com uma gula insaciável. A bocarra aberta do capitalismo é a porta do inferno na Terra.
Sem inimigos que nos valham estamos entregues à bicharada. É triste. Pior que triste, é um logro miserável.
11 comentários:
No trabalho tenho divergentes, será que eles me ajudam sem eu saber? A pensar.
Carlos, a unanimidade gera preguiça mental. Nada como uma boa (e violenta) discussão para limpar o pó às ideias.
Segundo consta as noticias do enterro da utopia comunista são colossalmente exageradas!
Não se deve confundir as nossas vontades com a realidade.
Realmente a vida do “lado de lá” era bem pior do que a imaginávamos, as pessoas tinham direito à habitação, à educação, à cultura, não só usufruindo dela como sendo agentes criadores, ao trabalho com direitos, com horários definidos, reformas asseguradas, tinham direito à saúde com serviços gratuitos… realmente aquilo era pior do que se imaginava, mas pior para quem?
Então e os Mercados?
Olaio, há muita gente que também acredita na virgindade de uma tal Maria. E também há quem não se importe de ir trabalhar com uma canga assestada no cachaço. Eu não acredito numa coisa nem admito a outra. Questão de feitio, talvez.
Jorge, os mercados? São como a Virgem Maria, só acredita neles quem não tem mais em que acreditar. O mesmo se passa com o comunismo, vai tudo dar ao mesmo: misticismo e ilusões!
Rui, é claro que ele há gente capaz de acreditar em tudo, como por exemplo nisto «Sem a cortina de Ferro ficámos à mercê dos nossos próprios demónios»... Bem, a verdade é que nisto de "pesadelos", cada um sabe(?) dos demónios que as suas ideologias carregam.
"Sem inimigos que nos valham estamos entregues à bicharada", não deixa de ser curioso o facto de considerares o comunismo como um inimigo, mas prontos, a verdade é que cada um sabe dos demónios com que prefere embalar o seu sono.
Pleno acordo com essa reflexão.
ora aí está, precisamos de um inimigo e ele existe, é assim como o diabo, tem muitos nomes e é hábil no disfarce, mas não deixa de ser o mesmo a usar falinhas mansas: mercado, capitalismo, liberalismo económico...
ps: espero que com este comentário não me chamem fascista
Olaio, temos os nossos demónios mas também temos a nossa amizade, que é mais forte do que eles!
:-)
Chapa, :-D
Dear Zé, fascista não digo, isso é mais coisa de comunista.
:-)
Ou então não.
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