Hoje estou em greve. Protesto contra o desmoronamento do estado social e a morte violenta do sistema democrático um pouco por toda a Europa. Os governantes eleitos em sufrágios universais são substituídos por homens de mão dos "mercados" ou, como no caso do nosso país, não passam de fantoches sem qualquer tipo de poder ou capacidade de decisão.
Protesto contra a escravatura política e social a que estamos sujeitos e protesto contra a ausência de alternativas. Não nos deixam outra forma de manifestar a nossa opinião que não seja esta: fazer greve.
Podem vir com a cantilena do costume: que haverá eleições e, nessa ocasião, sim, será tempo de fazermos valer as nossas opiniões através do voto. Que, fazendo greve, apenas estamos a gravar a situação já de si grave, do nosso país. A esses respondo: vão à merda!
Ninguém nos disse que iríamos ver os nossos ordenados cortados em 40% ou que o investimento económico seria ditado por aqueles que nos estão a roubar. Fomos enganados. Os capitalistas e respectivos sabujos não fazem greve, pudera...
Não me considero obrigado a aguardar pacientemente pela próxima oportunidade de participar num acto eleitoral que é, cada vez mais, uma fraude declarada. Faço greve porque é urgente dizer, alto e bom som: VÃO À MERDA!!!
Hoje li (e ainda vou ler) mais uns quantos capítulos de O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha que, por mero acaso, é a minha leitura do momento. Assim a arte de Cervantes me ajuda a ultrapassar as dúvidas e as desgraças que me são anunciadas em escritos de verdade duvidosa com que me tentam afogar o entendimento.
Viva a Greve Geral!!!
Abaixo o fascismo encapotado e abaixo os mercados, suas bestas de estimação!!!
9 comentários:
Rui, eu respeito todos os que entendem fazer greve, mas também me sinto na obrigação de dar a minha opinião, e a minha opinião é que não entendo esta greve, aliás como não entendo as greves há já muito tempo, aqui neste canto da Europa, com os argumentos do costume. Se os propósitos da greve fossem a exigência de um julgamento transparente e justo dos BPN's, Isaltinos, Varas, intervenientes em parecerias público privadas ruinosas para o estado, e sobretudo exigir que os sacrifícios fossem proporcionais a toda a sociedade, eu estaria na linha da frente, seria o primeiro, mas não é isso que se passa nesta greve. As greves hoje em dia são obscuramente controladas por pessoas com muito pouco escrúpulos que são as pessoas das centrais sindicais e que na sua grande maioria não me merecem respeito nenhum. Têm esta capacidade de parar o país boicotando sobretudo quem pensa de forma diferente deles, e não são só os capitalistas e os fascistas que pensam de forma diferente. Choca-me profundamente ver pequenos patrões e empresários ( que são muitos ) que se esforçam no limite para não irem ao fundo, porque se forem não têm subsídios de desemprego que lhes valha e para manterem postos de trabalho a funcionar, serem prejudicados e arrasados por uma lógica de terra queimada dos sindicalistas. Depois não recebo estas greves porque sendo elas um sucesso, como dizem, não percebo porque é que os grevistas não votam maciçamente nos partidos que as apoiam, quando há eleições. Se estes partidos prometem um país com um estado social brilhante, aumento dos salários e diminuição do desemprego não percebo porque é que não ganham eleições. Eu sei porquê e a justificação que encontro é muito feia. Porque têm medo de votar neles e é melhor depois fazer chantagem ( com o país ).
Enfim, é só a minha opinião. Onde não há pão todos ralham e se calhar ninguém tem razão, já lá diz o ditado, se calhar estamos todos assim.
Rui, como podemos fazer ouvir a nossa voz?
..."fantoches sem qualquer tipo de poder ou capacidade de decisão." dizes tu. Algum poder têm: rapinaram-nos parte do ordenado sem obrigação de retorno, apontam-nos mais obrigações sem o correspondente respeito pelo equilíbrio da nossa vida quotidiana, aumentaram progressivamente os impostos para níveis idênticos ao roubo mafioso, deixam degradar os serviços públicos fundamentais, administraram os nossos descontos de anos perdulariamente sem assumirem qualquer responsabilidade... E por aí fora!
Têm o poder de nos obrigar a pagar a reorganização do sistema do capital financeiro, o qual, controlando o funcionamento e a perspetiva da indústria, nos empurrou para esta situação. Eles também são economistas e advogados e tal e tal, sabem como as coisas se passaram.
Eles comem dos despojos da vida dos outros a quem chamam cidadãos, porque votam neles. Com faces televisivas sérias e angustiadas obrigam-nos democraticamente a fortalecer a rivalidade corporativa dos centros financeiros, de facto o verdadeiro poder.
Têm o poder dos tribunais e da repressão e a capacidade de lixar a vida das pessoas, com as quais fizeram contratos legais que foram alterando sem uma justificação válida.
Têm o poder do capataz com chicote!
Concordo com as inquietações do outro Rui sobre este modelo de luta "vanguardista" e datado que mais parece um escape para a indignação do que um modo de se construir e lutar por alternativas credíveis e mobilizadoras. A greve geral está a acabar e depois... A retórica costumeira e abstrata da luta, da mobilização, da consciencialização, do dar a volta... Mas para onde e por onde? Fica o vazio e a azia do costume de há anos.
Antes os dadaístas que não enganavam ninguém e desfaziam a azia com o humor!
Como podemos fazer ouvir a nossa voz? Não sei, talvez falando, progressivamente mais alto e mais sabiamente. Eles temem a sabedoria, o falar alto já não os incomoda!
Luís, é atirar-lhes com os restos do jantar. Já agora que comam também isso. Sei que não é sinal de grande sabedoria mas até que havia de dar algum conforto.
Rui, eu não me quis referir directamente à greve mas aos propósitos que estão por trás dela. Não é contra a greve que eu estou, é contra o motivo da greve que no meu entender é perverso. E é perverso porque estamos todos cansados de saber que chegámos ao limite do suportável, ao fim da linha. Ponham o mundo inteiro a viver como vive a maioria da função publica em Portugal e acrescente-se o estado social que nós temos ( que todos adoram dizer mal mas eu acho que é muito bom para a dimensão do que produzimos ) e o mundo rebenta, mas rebenta mesmo. E então vamos fazer o quê? Continuamos a exigir ter mais, só porque existem pessoas que ainda têm mais do que nós ou devemos exigir que quem tem mais baixe a fasquia? Estamos todos a viajar na maionese. Qual é o limite para isto? As pessoas estão completamente insaciáveis, estamos todos a ficar cegos e a subverter completamente a lógica de prioridades do mundo. Justiça neste momento era todos exigirmos que o nosso País não se comportasse com Angola e Moçambique da forma como se comporta, que nos devia envergonhar a todos se fossemos homens com H grande. É pornográfica a pobreza destes dois países e todo o mundo sabe disso. Traficam-se crianças, sem nenhuma espécie de defesa, a céu aberto, para contrabando de órgãos humanos para o Ocidente rico. Temos as empresas de todo o mundo, incluindo as portuguesas, a sugar o país, de mãos dadas com os políticos corruptos de lá, em nome do crescimento económico da Europa e da América, para a nossa classe média passear a sua vaidade pelas ruas e nós estamos aqui a falar do 13 mês que nos tiraram. Estamos todos a enlouquecer. Queremos continuar a crescer à custa de quê e de quem? No tempo do cavaquismo, quando todos éramos ricos, andavam os desgraçados dos emigrantes estrangeiros a serem explorados por todos nós em nome do nosso tão desejado crescimento económico ( essa vaca sagrada ) e nessa altura onde estavam as centrais sindicais e os seus conceitos de justiça para defenderem esses desgraçados, onde estávamos todos nós e o nosso sentido de justiça. Estávamos todos na orgia colectiva dos euros e das expos. A mim as centrais sindicais deprimem-me, porque há muito tempo que deixaram de trabalhar por ideais, param o país porque é esse o emprego deles, as pessoas descontam para os sustentar e eles depois têm que apresentar trabalho … sempre em nome, claro, dos mais nobres ideais.
Eu também gostava de ter mais e estou neste momento a passar a pior fase da minha vida profissional, isto é, não estou a falar do alto da minha "cadeira de sonho", do bem bom do meu conforto. Sou trabalhador independente, como muito boa gente, sempre paguei os impostos e a s. social, tenho dois filhos e … provavelmente não terei futuro, mas espero que isso não me tire, pelo menos, a lucidez.
Mas ó Silvares, mas atirar-lhes com as espinhas e as cascas das batatas é aliviar a carga, pode-se fazer na mesma, desde que depois possamos ser sábios! Aliás, é o tempero para uma confrontação de ideias à maneira. Claro que a ação seria apelidada de pouco polida, mas era mesmo por aí que se podia começar, por rebater essa ideia que não nos devemos irritar com o oponente e que a polidez é o comportamento adequado à discussão séria. O Durão Barroso está sempre sorridente na TV. Foi polido quando andou a reboque do Bush e do Blair naquele barrete das armas de destruição massiça? Devemos acreditar numa pessoa que mente em coisas tão graves? Não se deve mandá-lo "catar"? Como assim?! Os tempos estão duros e a procura de soluções, toda a gente o diz, é urgente. De que vale falar com um mentiroso irresponsável que não tem o mínimo respeito por todos os que levaram um balázio lá naquela guerra...
Acho os restos do jantar uma ideia perfeitamente razoável, pouco dolorosa e facilmente reparável, basta tomar banho e meter a roupa na máquina. No exemplo que citei é de uma polidez exemplar, para uma pessoa sem coluna vertebral que devia ser destituída de qualquer cargo público deliberatório. Ser julgado ser-lhe-ia bem mais gravoso, ainda teria de comer algum dia a comida dos pobres.
e eu não comento porque estou em greve
Ôh Dear (com sotaque britânico), ainda a estas horas?
Se fizeres mais tempo de greve ganhas horas extraordinárias?
Rui, futuro tens, de certeza! Tu e os teus filhos. Isso é coisa que ninguém nos tira.
Luís, julgar vigaristas poderosos no nosso sistema... "democrático"? Pois sim, já me tinhas dito. É por essas e por outras que esta merda está a implodir.
Dear Zé, o Luís já disse.
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