Portugal, Egipto, Espanha, Israel, Inglaterra; as manifestações populares ganham formas e características particulares mas haverá algo de comum entre elas? Os problemas variam ligeiramente; desemprego entre as camadas mais jovens da população, dificuldades em conseguir um modo de vida que possa ser considerado digno, desencanto perante a realidade, desajustamento entre o sonho e a realidade. O mundo em que vivemos não é nada parecido com aquele em que julgamos viver. A constatação desse facto provoca a revolta e a rua é o palco de todas as representações desse desencanto.
Se isto a que assistimos não é uma luta de classes à escala global, alguém me explique que raio de coisa é esta? Se isto a que assistimos entre o almoço e o jantar não é a revelação da falência do sistema capitalista selvagem que engole o nosso modo de vida e a utopia civilizacional de matriz social-democrata que nos permitiu sonhar com uma Europa unida, alguém que me explique que porcaria é esta.
Deixámo-nos enganar, deixámo-nos seduzir por um modelo consumista de matriz hedonista e entregámos os nossos valores humanistas em troca de uma mão-cheia de gadgets made in Taiwan. Trocámos o sonho americano (que era muito semelhante ao sonho europeu) pelo pesadelo chinês e é isso que iremos viver. Nós e todos os outros.
Desigualdade, injustiça social, desequilíbrio na distribuição da riqueza, perda de direitos básicos, o retrato da realidade que nos apoquenta dificilmente poderia ser pintado com tons mais obscuros. A solidariedade é transformada numa anedota de mau gosto.
Por todo o planeta assistimos a manifestações que reclamam apenas uma e a mesma coisa, seja no mundo árabe ou na Europa, todos clamamos por justiça! Esse é o denominador comum: queremos justiça, queremos pôr fim à corrupção e à impunidade daqueles que, sob o manto diáfano do capitalismo, contribuem diariamente para atiçar este incêndio que está a consumir o mundo contemporâneo até o deixar num monte de cinzas fumegantes. Estamos em luta contra a única Internacional que sobreviveu à antiga (e reconhecida) luta de classes: a Internacional Capitalista. Enquanto não formos capazes de identificar o inimigo comum com a clareza que se impõe estaremos à beira do abismo civilizacional. É tempo de recuperar e reenquadrar o conceito de luta de classes.
É necessário refrear o ímpeto capitalista que transforma este mundo numa selva onde a única lei que perdura é a lei do mais forte.
2 comentários:
http://www.youtube.com/watch?v=4mSS84BqXJ8
Obrigado Rui, ligação muito a propósito.
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