Visitar a Mona é uma espécie de ritual cumprido por gente que vem de todos os cantos deste planeta e, eventualmente, gente que vem de outros mundos que não este. Entra-se naquele palácio infinito, aquele palácio palácio pesado e pejado de objectos de arte das mais variadas proveniências cujo valor, todo somado, é muito mais do que incalculável.
O espólio do Louvre é o somatório desconcertante de sucessivos saques e roubos descarados levados a cabo por uma França que já foi imperial nos quatro cantos do tal planeta que alberga a maioria dos visitantes. Talvez por isso atraia tantos visitantes, por ser o centro, o buraco que absorve tantas coisas, vindas de todos os pontos do planeta Terra. Se um dia houver colonização espacial, decerto trarão novas relíquias para este lugar onde o tempo se transforma em pântano e arte se transmuta em fast-food para consumo imediato e digestão super rápida. A casa da Mona é uma fábrica de dinheiro.
Os visitantes da Mona, quando encontram uns cartazes a indicar a direcção e o sentido dos seus passos para que se dirijam até à sala onde ela está, lançam-se como zombies montados em galinhas com pernas poderosas através de salas e corredores e mais salas e mais corredores e mais salas, numa espiral meio demente, meio desvairada, ignorando olimpicamente a maior parte (se não a totalidade) das coisas por ali penduradas e expostas segundo uma lógica decerto inquestionável. Poucos se apercebem que, num dos corredores de acesso à sala da Mona, há mais 4 ou 5 (já não me lembro bem) pinturas do divino Leonardo. O pintor da cidade de Vinci.
Depois, lá no fim de tudo, no espaço fechado que se abre nas escarpas do deslumbramento pacóvio, lá está ela! A velha Mona do sorriso críptico, rodeada de uma multidão que fica sem saber bem o que faz ali, uma multidão a pairar num espaço mítico que, afinal, pouco tem de transcendente. Talvez por isso a maioria dos visitantes têm os braços erguidos e seguram objectos que fotografam a imagem profana mais sagrada do mundo. É um salão amplo, repleto de obras extraordinárias onde se destaca a monumental obra de Paolo Veronese representando as bodas de Canaã que é por muitos vista de costas.
O Louvre é isto mesmo, um imenso repositório de tesouros artísticos a maioria dos quais acaba ignorada pela esmagadora maioria dos visitantes que se contentam em visitar a Mona.
2 comentários:
Uma fantástica crítica. CONCORDO 100%.
Gracias.
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