quinta-feira, julho 09, 2009

Nova Iorque - parte 4 (Uma provocação)


A tela de Van Gogh no Guggenheim, ao vivo não parece tão bela.


Até que ponto a arte e os artistas contemporâneos são meros produtos de consumo para as massas? E os velhos mestres? Começo a pensar que a forma como os grandes museus estão "equipados" se baseia em amontoar nomes, independentemente da qualidade das obras.
Em Nova Iorque é até um pouco ridículo verificar que todos se esforçam por terem expostos um Pollock, um Rothko, um Franz Kline, um Jasper Jones e um De Kooniguezinho, como se isso fosse, por si só, garantia de publicidade positiva. Mas, o Turista Cultural atento e menos avisado, poderá até pensar que está a ver as mesmas obras em espaços diferentes.
No museu Guggenheim (um hino de espectacular e estranha harmonia à arte arquitectónica) havia um amontoado de pessoas defronte a uma tela de Van Gogh. Mas tratava-se de um fraco Van Gogh. Os espectadores estavam muito próximos uns dos outros, em poses mais ou menos bizarras, fixados na imagem como se dela esperassem retirar alguma magia.
Fiquei a pensar que todos eles (aqui eu já estava de fora, a olhar as pessoas) esperavam ansiosamente sentir alguma coisa. Estavam assim, hirtos como uma Vénus de Milo, na expectativa de que o contacto com uma obra de um dos maiores pintores da História da Arte lhes proporcionasse uma sensação extraordinária. Olhando as suas expressões pareceu-me ver apenas estupefacção, talvez, por não sentirem nada de especial. Seria isso possível? Penso que sim. Um nome não representa nada. O que poderá representar alguma coisa é a obra em si e aquela tela de Van Gogh é, apenas, um exercício de pintura, uma experiência entre duas obras-primas.
Para o consumidor de arte as telas são todas mais ou menos a mesma coisa. O que importa, acima de tudo, é o nome na assinatura. O nome vale pelo resto. Vale pela nossa falta de conhecimento, pela ausência de sensibilidade e, acima de tudo, é o nome que nos impede de classificar adequadamente tantas e tantas obras expostas nos grandes museus por esse mundo fora. No Guggenheim há um conjunto de telas de Cézanne simplesmente assustadoras de tão cruas no trato pictórico. Mas, tal como perante o Van Gogh atrás citado, os espectadores consomem-se tentando explicar a si próprios no silêncio interior que os apoquenta porque razão aquilo lhes parece pouco mais que uma valente merda, apesar do nome no canto inferior direito. E ali ficam(os), especados, como árvores tristes numa floresta queimada.

5 comentários:

Anónimo disse...

oi,
muito bom o seu olhar sobre o que vc viu e sentiu. melhor texto de todos os tempos q já li sobre a cidade e museus de ny, parabéns. vou te seguir na saga em ny. até
abs
madoka

Anónimo disse...

Silvares,

vou comentar sobre o comentario da Madoka, que é uma brasileira residente no Japão, e que entende e gosta muito de arte! De uma atenção especial para essa sua nova SEGUIDORA!
Quanto ao seu texto própriamente, concordo em termos. Não é possível para um artista, por mais "Cézanne ou Van Gogh" que seja, realizar uma obra do tamanho da deles, com qualidade uniforme! Como não é possível aos museus só terem obras excepcionais de cada artista. E finalmente, como bem disse, o universo cultural da média dos visitantes dessas instituições, ao que chama de Turista Cultural, é muito dispare, e heterogênia, e portanto há gosto para tudo. Às vezes a grande obra, não contém os ingredientes para atrair grandes públicos. E vice-versa, os Turistas Culturais são atraidos pelas obras que lhe dizem algo, e nem sempre são as melhores!
Mas a Madoka tem toda razão. Aqui se aprende, sempre, muito.

the dear Zé disse...

Só uma perguntinha (e não é sobre o que escreveste que tb se pode aplicar a muito gato por lebre que anda aí...), quem é aquele gajo na foto aqui ao lado, que está à tua frente? até que está parecido mas tem cá um ar de não ser para beincadeiras...

Silvares disse...

Madoka, fico grato pelas suas observações. Esta sga novaiorquina foi muito boa para mim e para a minha família. Ainda faltam os momentos de festa!
:-)

Eduardo, por vezes dá a impressão que os museus são uma espécie de Mc Donald's. É sempre a aviar!

Caçador, realmente, aquele gajo tem uma cara de meter medo! Algum monstro...

peri s.c. disse...

De fato ...