quinta-feira, julho 30, 2009

Um texto e um pretexto


Ao ler o texto acima (sacaneado do livro Lenda, Mito e Magia na Imagem do Artista - uma experiência histórica da autoria de Ernst Kris e Otto Kurz, editorial Presença) encontramos referências a uma série de anedotas relacionadas com o acaso enquanto método artístico(anedota é aqui entendida como a narrativa de um certo tipo de acontecimento que se repete ao longo de diferentes gerações, acabando por enformar as nossas noções do passado e, por arrastamento, construindo discretamente a nossa visão do presente).
Repare-se como Piero de Cosimo, por exemplo, imaginava batalhas magníficas olhando para manchas de vomitado escorrendo pelas paredes. Ou como o insuspeito Leonardo sugere que nos percamos em observações que a maioria poderia tomas por absurdas. Tem tudo a ver com imaginação e sugestão.
Vem isto a propósito da conversa sobre Canibalismo Cósmico e Hibridização Anárquica. Alguém seria capaz de imaginar Leonardo de Vinci a sugerir tais processos de exercitação da mente? Volvidos alguns séculos encontramos em Max Ernst a sugestão deste tipo de atitudes na busca de um processo criativo que lhe permitisse encontrar maneira de dar forma visível ao Automatismo Psíquico surrealista (atirar trapos embebidos em tinta contra a tela em branco e ficar a olhar para as manchas daí resultantes até elas significarem algo, por muito estranho que esse "algo" possa parecer). Lá no fundo, a esponja de Protógenes, os vómitos que fascinavam de Cosimo, as manchas de humidade de Leonardo, os trapos sujos de Ernst, são antepassados ilustres da modesta Hibridização Anárquica. Mas a Hibridização é mais complexa.
Volto ao tema para a semana. Acabou-se-me a cervejola e vou de fim-de-semana.
Até 2ª (acho eu...)

4 comentários:

Anónimo disse...

Aguardaremos!

luisM disse...

Coisinho, vais andando para terrenos pantanosos, acho.
Compra umas galochas, ou arregaça as calças!
Os processos mentais para construção dos objectos são um bocado complicados, penso eu. Estão lá as coisas que dizes e outras que não dizes, e eu também não, porque é uma área que nunca aprofundei directamente e que anda pelas psicologias (experimentais). Mas como provocação, deixo-te aquele célebre livro do Munari, salvo erro "Das Coisas Nascem Coisas" (agora não posso precisar), em que ele contesta os processos empíricos, para contrapor a racionalidade e a lógica como processo mais eficaz para resolver problemas, mesmo os de carácter plástico (que ele despreza bastante). O livro é bastante datado, mas amanha-te com ele!

Já tens trabalho para 2ª, amigo meu.

Anónimo disse...

é isso aí. Gostei do tema, novo pra mim rs. Canibalismo cósmico e hibridização anárquica.
entendo um pouco agora, dos processos de certos artistas. rs.
madoka

Silvares disse...

Acabo de regressar. Umas centenas de quilómetros a conduzir o meu velho Volkswagen e um certo calor meio abafado não convidam a grandes esforços mentais (muito menos físicos). Os olhos estão pesados.

Luís, pois é. Por serem tão complicados é que alguns atiram esses processos mentais lá para trás da consciência. Como dizias para o Leonel Moura, custa a engolir afirmações definitivas. Quanto ao Munari... já dizia o Camões que "atrás do tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir" (era o Camões não era?). Com as "coisas" passa-se algo semelhante. Deixa lá o Munari arrumadinho na prateleira. Eu é mais romances.
;-)

Madoka, estas ideias (o Canibalismo e a Hibridização) surgirma há uns anos atrás (bastantes anos) quando era ainda um estudante na escola de Belas Artes e gostava de imaginar que aquilo que fazia tinha uma energia própria e trazia algum ar fresco. Hoje já não acredito tanto nisso mas sabe-me bem regressar ao passado para que depois seja igualmente agradável regressar ao futuro.
:-)