segunda-feira, julho 27, 2009

Cabeça cheia de vazio


Uma praia e muito sol. O mar daquela cor... esmeralda? Pessoas morenas ou nem por isso. Um ambiente pacífico banhado pelo Atlântico a namorar o Mediterrâneo. Uma aldeia que é pura invenção onde a vida se desenrola ao ritmo das ondas. Calmaria absoluta. Isto é, assim de repente, o que me é dado recordar dos últimos dias, passados na Ilha de Armona, atirada ao mar, ali defronte a Olhão. Um Algarve absoluta e genuínamente português, a fazer-me acreditar que há lugares impossíveis de estragar com aldeamentos turísticos de pacotilha e canalizadores ingleses em férias armados em lordes malcriados. Um lugar para esvaziar a cabeça e enchê-la de coisa nenhuma. Paz, apenas. O que já é muito e é tudo, ou quase nada, ou nada mesmo. Absolutamente nada. O fim-de-semana passou assim, como uma nuvem. Volto lá no próximo. Será possível repetir o sossego que encontrei? Talvez. É por isso que lá volto. Em busca desse sossego, para tentar encher de vazio os espaços na minha cabeça que ainda têm algum lixo.

9 comentários:

Lais Castro disse...

Puxa! Bem que eu gostaria de preencher a minha cabeça de vazio num lugar assim sossegado...pelo menos por uns dois dias!
Abraço.

luisM disse...

Tens razão mestre, uma calmaria daquelas para ouvir os pensamentos. É raro, hoje em dia e o espaço para tal precisa de ser conquistado. Pois eu escrevo isto imediatamente a ter estado a ver uma tempestade de relâmpagos a desenharem-se num painel cinzento de nuvens, com quilómetros de largura, do outro lado do lago. Sem ouvir os trovões, nada mais que o aguaceiro e o vento fraco. Solidão quase completa, árvores por trás, silhuetas da cidade, água e atmosfera em frente.

Mas é curioso que às vezes consigo isso no fundo de uma chávena de café, num carro todo cheio de caca de pombos, na empena dum prédio, no vidro de uma montra, com uma barulheira do caneco à minha volta. Não é um isolamento ainda completo, mas hei-de lá chegar...

Dito assim, já percebes melhor o que é que eu fotografo, mais ou menos...

Silvares disse...

Laís, há sempre um dia e um lugar para o descanso total. Pelo menos precisamos acreditar nisso para que aconteça.
:-)

Luís, ainda há um bocado li uma passagem do "Lenda, Mito e Magia..." que descreve algo do género, a percepção de um conjunto de dados aleatórios que despoletam o acto criativo. Quanto à captação de um isolamento interior que se manifesta por sinais exteriores... isso já me parece outra sinfomia.

o Dear disse...

Por isso o gajo só fotografa tinta descascada...

Selena Sartorelo disse...

"Para tentar encher de vazio os espaços na minha cabeça que ainda têm algum lixo"

"Acabei levando essa "merda" que vem de longe lá para o espampanante." Não preocupe-se levei porque nela fiquei pensando, não que isso mude ou signifique algo mas no meio do caminho li a sabedoria da Ví ( e acho lindo o que disse e fico a me cutucar o tempo todo,...Agora! A tua opinião é de muita importância sim e nem é necessário dizer os porques)...
Mas eu fiz desse atrevimento os mesmo de sempre...adoro papear e saber outros pensamentos. Não estamos, eu pelo menos não. a promover nada mesmo, além de pensar em assuntos que de maneiras diferentes somos apaixonados não é?)
Prometi me calar (mas ô decendência viu!!! Para que não haja mal entendidos (italiana) rsrsrs...mas AH! são opiniões sinceras...não estou a ditar absolutamente nada e nem tenho essa autoridade...apenas o que sinto e isso já me basta.

Percorri alguns outros textos que postou e às vezes comento..mas por não ter uma obediência acabo me perdendo, Mas percebo que essa conversa vem de algum tempo atrás e vem sendo pintada ou despintada de uma maneira muito boa e diferente...Vejo certa filosofia nisso, uma constante preocupação em inovar ou não copiar. Um insessante cuidado em não se manter igual...E o mais interessante é quando se faz o pseudo novo a real transformação do antigo. A transformação do mesmo pensamento...hummmmmmm..não sei direito.

Diferente de se colocar (nada contra, mas também nada a favor apenas acho uma merda) objetos pareados a outros e ter que explicar a profundidade daquilo.


Mas digam-me se estou exagerando em ver o artista entrando dentro da tela onde está a modelo que pintou?

Não trata-se do raso questionamento, mas do simples questionamento esse é o meu pensamento. Tudo feito de maneira elaborada e crua... insistentemente pensada. Não sei se estou sendo clara..comecei a explicar a frase e já fui prá outras bandas..Calma voltei.

Estive aqui há pouco li e saí com uma certa tranquilidade em entender essa primeira frase..ultima do seu texto. cheguei no outro lugar onde o você já tinha divagado sobre os espelhos, li e fiz um comentário imennnnnso..bem maior que esse por sinal..ainda bem que perdi.

E por fim!
Com todo aquele suposto vazio, a entendida paz fui e dei de cara com Corbino lá no espampanante..daí pos-se tudo a perder...

Mas, de fato e pedido, vocês que entendem por cultura adquirida e direcioanada deêm uma olhada.(óbvio que não aguentei e escrevi, mas isso não vem ao caso)


Beijos,

Silvares disse...

Pois é, Dear, os segredos revelam-se na medida do possível.

Selena, este seu comentário é como um labirinto. Vou ter de procurar o fio que leva aos diferentes lugares que aqui descreve. Mas sempre lhe digo que o modelo pintado é sempre o próprio artista transformado naquilo que os seus olhos entendem. A maior parte das vezes é um acto inconsciente (ou será subconsciente?) e, também por isso, o artista se perde e mais tarde se encontra ao rever a obra produzida.

luisM disse...

Dear, e bocados de madeira todos esborratados...

Ví Leardi disse...

...tudo que preciso agora!!! até já!!
:)

Silvares disse...

Luis, e não só...

Ví, até já.