quarta-feira, setembro 10, 2025

A manada

     Tacatum, tacatum, tacatum, uma manada de filhos-da-puta disparada avenida abaixo leva tudo à frente: árvores, viaturas, crianças, velhinhas, animais de estimação, nada escapa ao galope desenfreado da manada. Tacatum, tacatum, tacatum. Um tipo de boné e capote alentejano avança destemido em direcção ao centro da avenida e levanta um braço. Tacatum, tacatum, a manada não parece abrandar (não abranda de facto, antes ganha mais e mais balanço) mas o compadre não arreda bota: ali está, qual estátua neorrealista, braço erguido e olhar confiante, um leve sorriso a desenhar-se-lhe no canto da boca, ah valente! Tacatum, tacatum, tacatum, nenhum dos filhos-da-puta se acerca a menos de 10 centímetros do nosso herói, passam por ele em correria como um rio se afasta respeitoso ao encontrar ilhota que lhe faça frente. É um milagre? Não, é uma cambada de filhos-da-puta na qual, apesar de investirem em manada, não há um único que tenha tomates para experimentar atropelar o compadre alentejano. Se algum o fizesse havia de o deixar todo partido, estendido no asfalto a sangrar e a dizer mal da vida. Como se fosse um forcado azarado. Tacatum, tacatum, tacatum, lá vão eles, desenfreados em direcção a um futuro que é só seu.

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