Sentiu vontade de reclamar mas o bom senso recomendava silêncio. A mulher sentada ao seu lado mantinha os olhos baixos, parecia uma estátua. O negro no banco à sua frente olhava fixamente a janela do comboio subterrâneo, quando muito via-se a si próprio. Reflectia. O comboio gritava e rugia caverna fora na sua barulheira habitual. Rodou discretamente os olhos tentando perceber as reacções dos seus companheiros de viagem. Todos os que conseguiu ver pareciam evitar mostrar a mínima emoção. O ambiente pesava como chumbo.
Quando as portas se abriram, na estação seguinte, levantou-se e saiu rapidamente para a plataforma. O ar estava quente, pairava um cheiro metálico. A carruagem fechou-se e o comboio, insensível, arrancou de novo. Chiou e guinchou, ganhava balanço para mergulhar de novo na escuridão do túnel. Levava dentro dele toda aquela dor, a injustiça, a crueldade, o mal. Sentiu-se aliviado por não ter de continuar a assistir ao terrível espectáculo. Sentou-se. As pernas tremiam-lhe demasiado para que pudesse continuar a caminhar.