segunda-feira, abril 14, 2025

Ossos do futuro

     Sentia-se preso. Preso a um lugar, preso a uma certa maneira de assistir à passagem do tempo, sentia-se preso ao corpo que sempre lhe servira de morada. Aquela sensação começava a deixá-lo desconfortável consigo próprio, coisa que havia muito tempo o não apoquentava. Talvez uma viagem pudesse atenuar tão incómoda sensação. Mas também não lhe parecia que isso pudesse resolver o problema (se é que tudo aquilo poderia ser considerado um problema).

     O que fazer, então? Inventar trabalhos estranhos, tarefas impossíveis que pudessem ocupar-lhe os pensamentos? Deitar-se no chão de barriga para cima a olhar o tecto? Ler todos os livros na prateleira que ainda não lera? Pensando bem podia engendrar diversas actividades capazes de atenuar aquela dor que continuava a não conseguir localizar. Mas aquelas ideias pareciam vir também engaioladas. Duvidou que pudesse escapar por essas vias.

    Foi então que sentiu aquela friagem subir-lhe corpo acima até se lhe gelar por completo o interior do crânio, como se chegasse um inverno desconhecido a instalar-se dentro dele. Gelo, neve e uma tristeza infinita.

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