sexta-feira, janeiro 20, 2023

A espera

     Sim, já me apercebi, ando melancólico, sinto-me triste. Sim, tenho vindo a perder algum brilho, nem sempre encontro um sorriso mordaz dentro de mim. Espero não ficar assim, macambúzio. Que seja coisa passageira.

    Penso que esta sensação de aperto no estômago, este nó que se vai enrolando mais a cada dia, penso que tenha a ver com o facto de o meu pai estar a passar deste mundo em direcção a um outro. 

     Sinto-o a vaguear, hesitante, na fronteira. Sinto-o perdido, confuso, e não há quase nada que eu possa fazer. Esta sensação de impotência arruína-me o peito, enegrece-me os pensamentos.

    Mas o que é esta minha tristeza comparada com a jornada do meu pai? Nada! Não é nada; mera lamentação. Olho para ele, magro, recurvado, olhar ausente e vejo uma criança. Pego-lhe na mão fria e somos ambos crianças, crianças perdidas, órfãos de mãe à espera que o tempo passe. De mãos dadas.

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