sexta-feira, janeiro 13, 2023

Vulgaridade

     Reflectir sobre coisas sem sentido, eis algo que perdera o interesse, algo que já não provocava nele o habitual entusiasmo do mergulho nas ondas de um pensamento puramente especulativo; fosse na questão da pertinência da letra do hino nacional, fosse nas razões que provocam a incompreensível desigualdade social entre ricos e pobres. O mesmo não se poderia dizer sobre as diferenças entre os vivos e os mortos.

    Tudo era confuso, as formas das coisas pareciam diluir-se no espaço em volta.

    Levantara-se inquieto, o cérebro como uma colmeia em intensa actividade. Deslocou-se pela casa sem perceber muito bem o que fazia, muito menos o que pretendia fazer. Parecia-lhe que esbarrava em coisas invisíveis, coisas que o atravessavam ou ele atravessava, o mundo, naquela manhã, apresentava-se inconsistente. Talvez fosse apenas viver mais um dia igual aos outros.

    Aí pelas quatro da tarde sentiu um certo cansaço. Ainda faltavam oito horas para que as vinte e quatro marcadas pelo relógio atingissem o limite e já tinha vivido tantas coisas extraordinárias! Aquele dia era, definitivamente, igual a tantos outros, mais um dia de vulgaridade absoluta.

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