Veja-se o
acto de avaliar o teste de Português de um aluno em situação de exame nacional:
pega-se nas suas respostas e comparam-se com descritores de desempenho
previamente elaborados para o efeito de peneirar o conhecimento ali depositado.
Cada resposta corresponderá a um nível com determinada pontuação. Os dados vão
sendo introduzidos numa folha de Excel que os vai somando até que, voilá!: temos o resultado final. Naquele
número fica sinteticamente representado o valor do examinando. É uma espécie de
magia, uma Pedra Filosofal que transmuta conhecimento em números. O aluno já
foi avaliado de forma semelhante ao longo de toda a sua vida escolar. Números
que vão marcando o seu percurso académico como as migalinhas de pão de Hansel e
Gretel marcaram o seu caminho no chão da floresta.
A avaliação,
aplicada de modo científico, garantirá que no fim do percurso obrigatório de 12
anos de escolaridade todo o esforço será recompensado, toda a preguiça será
castigada. É assim que imaginamos que as coisas se passam, que há uma espécie
de justiça divina no resultado do processo. A prová-lo exibimos pautas com
listas de nomes, a cada nome correspondendo um número, a cada número
correspondendo uma certa imagem de uma pessoa real. Não se nota nas pautas mas
há boas pessoas, há espertalhões, uns que são solidários outros que são
egoístas. Uns quantos entram para as juventudes partidárias ou já por lá
andavam. Passados alguns anos temos ministros, secretários de estado, elites
dirigentes.
Pretende-se,
agora, que, antes de poderem jurar defender a res publica em cerimónia tutelada pelo Presidente da nação, os
escolhidos preencham um inquérito que avalie de modo objectivo a sua idoneidade,
embora não a sua competência, para o desempenho do cargo. Tudo isto de modo a
descansar o pessoal quanto à lisura do resultado do processo. Mas, temo bem, a
objectividade da avaliação não passa de um mito.
Carta enviada ao director do jornal Público