quinta-feira, março 03, 2022

Ser pelos fracos

    As reacções à guerra na Ucrânia têm estranhos contornos. As pessoas vão-se dividindo, umas a favor, outras contra, creio que poucas ficarão indiferentes. Há uma certa necessidade de declararmos a nossa posição e, nesta guerra, talvez por ser na Europa, poucos são os que não escolhem um dos lados. A neutralidade tem aspecto de vaca magra.

    Pessoalmente sinto uma profunda aversão em relação a Vladimir Putin, já várias vezes declarada aqui no 100 Cabeças. Quanto aos líderes ucranianos não posso dizer que morra de amores por eles mas não consigo ficar indiferente à agressão de que estão a ser vítimas. Haverá muitos telhados de vidro sobre o território da Ucrânia, acredito piamente, mas como aceitar a brutalidade agressiva do urso russo? Nesta guerra tomo o lado dos mais fracos, como sempre. Sou pelos fracos.

    A forma como os meus amigos comunistas se enfileiraram ao lado do carrasco russo deixou-me incomodado. Agora vêm dourar a pílula, jurando a pés juntos que são contra a guerra (serão pacifistas?) que nunca apoiaram a passagem do rolo compressor da máquina guerreira de Putin pelo território ucraniano, etc. e tal. Mas a sensação que fica, porventura ampliada pelos mass media, é a de que se trata de jogo de cintura tentando fugir com o rabo à seringa. O ódio (tal como o amor) à NATO faz razia no bom senso.

    Nestas coisas há muita fé à mistura. Precisamos de acreditar numa narrativa que nos é oferecida. As questões que colocamos dificilmente obtêm respostas inequívocas, caem sobre nós palavras inflamadas, pancadas no peito e vozearia tonitruante. Ficamos impressionados, tendemos a acreditar. Mas não sou capaz de deixar de pensar que em estado de guerra, tal como na religião o reino do céu, é aos pobres de espírito que está prometida a verdade.

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