sexta-feira, março 18, 2022

O mundo de relance

     Vivemos durante anos imaginando que as nossas sociedades democráticas evoluem continuamente em direcção a uma certa ideia de perfeição. Essa perfeição engloba, entre outros valores e ideais, a defesa das minorias, a liberdade religiosa e de expressão, o estado social, uma distribuição da riqueza progressivamente mais justa.

    A justiça básica destes valores parece-nos inquestionável, logo irrefutável. A esmagadora maioria dos cidadãos estaria de acordo com esta evolução em direcção ao paraíso na Terra. Assim sendo, tornou-se quase desnecessário lutar por aquilo em que acreditamos. O natural desenrolar da História haveria de encarregar-se de ir colocando cada coisa no seu devido lugar.

    Mas, na verdade, nunca foi bem assim. Há uma luta constante, uma imparável necessidade de estar atento, reivindicar, questionar, tomar partido e nunca desistir de fazermos aquilo que é, para nós, correcto. Surpreendentemente, ou talvez não, surgem todos os dias adversários que põem em causa a justeza dos nossos ideais e dos nossos valores. Mais surpreendentemente ainda esses adversários são eleitos pelas populações. 

    Temos, espalhados pelo mundo, autocratas e candidatos a tiranos que governam a vida de milhões, que são apoiados e idolatrados pelos que os elegem, que são inimigos dos nossos ideais e dos nossos valores. Põem em causa os direitos das minorias, segregando-as, impõem uma religião perseguindo aqueles que acreditam noutros deuses, calam e reprimem as vozes discordantes, fomentam a desigualdade social e concentram a riqueza nas mãos de supostas elites que vampirizam literalmente milhões de deserdados da sorte.

    As democracias estão em perigo.

Sem comentários: