O homem mantinha-se vertical, aparentando uma solidez invejável. Os seus braços desenhavam suaves arabescos e a voz, profunda como o eco de um poço, produzia um efeito hipnótico arrebatador. Na sala todos se sentiam maravilhados. Todos, excepto o homem que se mantinha vertical e desenhava com os braços suaves arabescos.
As pessoas sentadas em filas de cadeiras perfeitamente alinhadas apresentavam excêntricas deformidades: tentáculos, guelras arquejantes, olhares desorbitados, dentuças amarelentas, beiços salivantes. O homem produzia um esforço sobre-humano para manter a compostura, não perder o fio narrativo, conseguir falar, não gritar, não fugir, não matar.
A palestra durou exactamente uma hora, conforme o previsto. Quando terminou, o palestrante, ouviu os aplausos e ficou surpreendido por ver que todos os presentes tinham um par de mãos que batiam com maior ou menor entusiasmo. Uma senhora vestida com extraordinário bom gosto sorriu-lhe de uma forma especial. Ele sorriu de volta.
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