domingo, novembro 03, 2019

Contra o chumbo, marchar, marchar!


Assistimos à enésima arremetida ministerial contra as retenções no ensino básico. A redução espectacular dos chumbos que se verificou desde que Brandão Rodrigues é ministro não basta, queremos mais, queremos melhor! Enquanto houver uma retenção que seja, descanso e auto-satisfação não serão opções.

Novos estudos fornecem velhas conclusões: a retenção é selectiva, é precoce e cumulativa, levando na enxurrada do insucesso os filhos de famílias mais pobres, menos estruturadas e com menor capacidade de acesso a bens culturais. Haja esperança, até ao final desta legislatura o salário mínimo aumentará para 750 euros.

Velhas conclusões sugerem velhas soluções: acompanhamento individualizado, sistematização de programas e currículos, envolvimento activo dos diferentes actores educativos mas, sobretudo, apostar no empenho de professores e directores escolares reforçando a sua autonomia. Desta vez é que é!

Nas salas de aula continuarão a reunir-se turmas demasiado numerosas, os programas e currículos serão, como sempre, extensíssimos e desajustados, a carga burocrática do trabalho dos professores continuará kafkiana e com tendência a contribuir para o enlouquecimento de uma classe profissional envelhecida e, dizem, desmotivada.

Não obstante, no final da legislatura os resultados serão animadores, verificar-se-á que as taxas de retenção diminuíram, que o abandono escolar recuou e o ministro poderá sorrir, confiante de ter realizado um bom trabalho.

No universo dos números e das percentagens tudo está bem quando acaba bem. Verificar se a luta contra a ignorância e a estupidez teve sucesso será algo mais difícil de avaliar e não interessa a (quase) ninguém.


Carta enviada ao Director do jornal Público a 3 de Novembro de 2019

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