sexta-feira, janeiro 22, 2016

Declaração

Quando digo que, aos gajos do estado islâmico, era meter-lhes uma bala no focinho a cada um (para poupar munições), digo-o por mim, digo-o por ti, mas também por Strummer, por Zeca, por Bowie, por Mozart, por Amália, por todos os outros que fizeram música maravilhosa; por Camões, por Shakespeare, por Tolstoi, por Tchekov, por Calvino, por Bolaño, por Cervantes, por todos os que inventaram o mundo das palavras; digo-o por ti, pelos teus, pelos meus e também por Bosch, por Goya, por Giotto, por Bacon, por Basquiat, digo-o por todos os que encontram a liberdade a cada momento.

Digo-o por Cristo, por Maomé, por Buda, por todos os profetas mais ou menos obscuros, por todas as personagens de fábula, de lenda, de mito, pela liberdade de expressão e pelo direito a calar boca.

Quando digo que, aos gajos do estado islâmico, era meter-lhes uma bala no focinho a cada um digo-o por ser incapaz de aceitar que esta cultura de que faço parte possa alguma vez desaparecer subjugada pela força da estupidez e da ignorância.

Isto não se aplica exclusivamente aos assassinos do estado islâmico e a bala pode ser metafórica. O focinho não.

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