segunda-feira, outubro 13, 2014

Vida em diferido

Estou em Almada. Sento-me no café para beber um café. Na TV imagens de uma cidade de Lisboa alagada. Ruas que parecem mais o Tejo que o próprio Tejo. Automóveis submersos na Rua das Pretas, um deles com o condutor de gatas sobre o tejadilho.

Tampas de esgoto que saltaram permitindo fontes violentas de água que jorra alegremente num espectáculo surpreendente. Tudo isto aconteceu em Lisboa. Hoje.

Hoje fui a Lisboa. Para lá fui de barco, fui de metro. Como de costume viajei debaixo das ruas.De metro regressei ao cais, depois o barco. Balanço bom, chuvinha caindo, quase simpática. Nada daquilo que a TV mostra.

Tem acontecido isto. Já aconteceu, pelo menos, uma outra vez. Lisboa alaga-se, deixa-se enganar pelas águas que o céu lhe atira para cima com toda a força, eu vou a Lisboa e não vejo nada disto. Nadinha de nada. Vejo as cheias e as enxurradas na TV, em diferido.

É uma sensação estranha. Como se, para mim, houvesse apenas normalidade mesmo quando passo perto do acontecimento extraordinário. Como se, para mim, a vida fosse uma rotina segurinha, sempre longe das coisas espantosas que acabo por ver, apenas, em diferido, na TV.

2 comentários:

João Menéres disse...

É assim que o António Costa se prepara para tratar o país ?

Silvares disse...

Se calhar é!
:-)